Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

quarta-feira, 10 de junho de 2015

AS INESGOTÁVEIS RIQUEZAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS. (XI Parte)




O Discípulo que Jesus Amava
e o Sagrado Coração

Erat ergo recumbens unus ex discipulis ejus in sinu Jesu, quem diligebat Jesus. Innuit ergo huic Simon Petrus, et dixit ei: Quis est, de quo dicit? Itaque cum recubuisset ille supra pectus Jesu, dicit ei: Domine, quis est? Respondit Jesus: ille est cui ego intinctum panem porrexero. Et cum intinxisset panem, dedit Judae Simonis Iscariotae. Et post buccellam, introivit in eum Satanas”1.

Ora um dos seus discípulos, ao qual Jesus amava, estava recostado sobre o seio de Jesus. A este, pois, fez Simão Pedro sinal, e disse-lhe: De quem fala Ele? Aquele (discípulo), pois, tendo-se reclinado sobre o peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é esse? Jesus respondeu: É aquele a quem Eu der um bocado de pão molhado. E tendo molhado um bocado de pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. E, atrás do bocado, entrou nele Satanás”2.

1 – “João foi o único Evangelista que recebeu do Senhor o dom extraordinário e exclusivo de dizer, acerca do Filho de Deus, coisas que podiam excitar as inteligências atentas dos pequeninos, embora estes não fossem capazes de as pôr em prática. Quanto às inteligências dos mais adiantados, que estão prestes a atingir na vida interior a idade viril, dá-lhes nestas palavras, alguma coisa de que podem tirar objeto de meditação e de alimento. Durante a Ceia reclinou-se sobre o Peito do Senhor,3 o que mostra que bebeu do íntimo do Seu Coração, mistérios bastante profundos”.4

2 – “Não vos afanais, meus Amigos da Cruz, de ser amigos de Deus, ou de tal querer-vos tornar? Resolvei, pois, beber o cálice que é preciso, necessariamente, beber, para se tornar amigo de Deus. Calicem Domini biberunt et amici Dei facti sunt – Beberam o cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus5. O bem-amado Benjamin teve o cálice e seus outros irmãos tiveram apenas o fermento6. O grande favorito de Jesus Cristo teve o seu Coração, subiu o Calvário e bebeu do cálice7. Potestis bibere calicem – Podeis beber o cálice que eu beberei?8 É bom desejar a glória de Deus; mas desejá-la e pedi-la sem se resolver a tudo sofrer é fazer um pedido louco e extravagante: nescitis quid petatis - Não sabeis o que pedis9.10

3 – Um dos seus discípulos”, São João Evangelista.11

4 –Recostado... no seio de Jesus... – Era costume antigo, aceito entre os judeus, tomarem-se as refeições recostados sobre leitos. Deste modo, João necessariamente devia repousar a testa no regaço de Cristo, pois estava ao seu lado”.12

5 – “Os Hebreus costumavam pôr-se à mesa em leitos guarnecidos de coxins, firmando-se nos braços esquerdo a fim de terem o braço direito livre para tomar a comida e estendendo os pés em direção à parede. Nessa posição, a cabeça do que estava adiante vinha a tocar no peito do que lhe ficava imediato, de modo que se reclinava em seu seio”.13

6 – “Os convivas se punham à mesa, reclinados sobre uma espécie de leito ou sofá, de tal modo que o segundo tinha naturalmente a cabeça à altura do peito do primeiro conviva. O discípulo que assim se tinha recostado sobre o Coração de Jesus, era S. João, o Apóstolo virgem, aquele a quem, por isso, amava Jesus de modo particular. Que outro, aliás, teria tomado tanta liberdade? Os puros amam os puros, compreendem-se e naturalmente se procuram. Por ser puro ousa S. João interrogar o Mestre e somente a ele disse Jesus quem havia de traí-lo.

Pensam os intérpretes que o discípulo amado transmitiu a S. Pedro a revelação do Salvador. – S. João que, no Cenáculo, tomou posse, por assim dizer, do Coração de Jesus, foi também o Apóstolo do Coração de Jesus”.14

7 – “Como os convivas estavam todos encostados nos leitos, apoiados no cotovelo esquerdo para conservarem livre a mão direita, voltavam-se as costas uns aos outros; bastava, porém, um leve movimento para trás para recostar a cabeça no peito do que estava atrás: chamava-se isto estar no seio dele. Era o caso de São João”.15

8 – “Estaba recostado delante de Jesús, pudiendo hablarle en secreto con sólo volver la cabeza, y Jesús a él al oído con sólo inclinarse hacia adelante”.16

9 – “Provavelmente o único Apóstolo que não perguntou: Sou eu? Foi João, porque tinha naquele momento recostada a cabeça sobre o Sagrado Peito do Divino Salvador. João mostrou-se sempre orgulhoso deste fato e todas as vezes que fala de si diz que é aquele a quem Jesus amava...”.17

10 – “Nos Evangelistas algo de mais solene anuncia aqui a Hora Sagrada e a aproximação do Mistério. Para esta Ceia augusta, vemos os discípulos, segundo o costume do Oriente, meio deitados sobre uma espécie de leitos. Os convidados de ordinário tomavam lugar três a três, e estes leitos de festa chamavam-se: triclinia, por causa do uso e da disposição.18 É o que indica S. João, quando diz que tinha o rosto voltado ao Peito e à Face do Mestre. Pedro estava do outro lado do triclinium, como veremos mais longe; Jesus entre os dois. O lugar do jovem discípulo era o que se chamava o seio do pai de família, a que o Evangelho faz alusão. Além disso havia aqui uma significação mística; Orígenes compara o repouso sagrado de João no seio do Verbo, ao repouso do próprio Verbo no seio de seu Pai”19.20


Jesus Crucificado
recebe no lado
o golpe da lança21

1ª Meditação: Opinam os judeus que Jesus leva muito tempo a morrer, por isso, insistem junto de Pilatos para que lhe sejam quebradas as pernas provocando assim mais rapidamente a morte com novos espasmos e novos tormentos.

Alegam como motivo a iminente solenidade22 aparentando escrúpulo em deixar pendurado na cruz o condenado, durante o dia festivo, eles que nenhum escrúpulo tiveram em condenar um inocente.23 Pilatos acedendo ao pedido deles, manda uma decuria de legionários que após haverem despedaçado os ossos aos infelizes ladrões, verificando que Jesus já estava morto, passam além sem tocá-Lo.24 Há, todavia, entre eles um mais cruel, o qual suspeitando esteja Jesus ainda vivo, para lisonjear os bárbaros instintos dos judeus, que continuam com infernal algazarra a insultar o Nazareno, com forte e firme golpe de lança, lhe transpassa o peito.25

Observemos como no fato de não se quebrarem os ossos de Jesus e de transpassar o cadáver, está a realização de mais uma profecia26 registrada nos livros de Moisés e confirmada pelo mesmo Salvador.27 Não obstante isso, a alma, apaixonada do judaísmo nada enxerga continuando no mesmo ódio intransigentemente feroz, na mesma cegueira, na mesma dureza de coração.

A caridade de Jesus continua a jorrar ondas de calor benéfico do seu bendito Corpo, ainda que separado da Alma!

Apesar da perfídia tenaz e dos propósitos de que aninham em seus corações, Jesus não deixa de estimulá-los com graças interiores, convidando-os a se penitenciarem e chorarem o grande crime do deicídio.28

São, todavia, inúteis esforços.

Vejo nisto, ó meu Deus, a reprodução fiel das relações que medeiam entre Vós e minha alma.

Inúmeras vezes batestes em meu coração, pedindo hospedagem iluminando-me com inspirações, sacudindo-me com salutares terrores, aliciando-me com a visão do prêmio, seduzindo-me com os Vossos carinhos. Todavia, devo confessar que outras tantas vezes resisti, ora abertamente, ora indireta e hipocritamente: Tenho levado uma vida de vai e vens, de avançadas e recuos, de passo adiante e passo atrás, um verdadeiro círculo vicioso... E no entanto, ainda me tolerais!

Jesus, compreendo afinal o significado sublime que encerra o fato da integridade dos Vossos ossos.

Quereis com isso demonstrar que nada é capaz de demover-Vos ou abalar-Vos na Vossa paciência, humildade e mui principalmente caridade e misericórdia com que insistis para converter os Vossos inimigos.

De um lado a maldade humana para provocar-Vos, do outro a solidez das Vossas virtudes a aumentar, a pacientar, a esperar. De um lado a obstinação diabólica em preparar um futuro de desgraças e de calamidade, de outro a santa e incuncussa perseverança do Vosso amor a pôr barreiras intransponíveis entre as almas pecadoras e o Inferno.29 Deus Onipotente, que desprezais o pretenso valor dos soberbos e amparais a aparente fraqueza dos humildes;30 extingui do meu coração a soberba que Vos é tão odiosa31 e concedei-me a santa humildade, que me torne dócil às Vossas inspirações, que quebre toda resistência das minhas paixões, que me atire vencido aos braços da Vossa misericórdia.

Arraigai em meu coração, particularmente, a caridade fraterna, amando deveras e desinteressadamente a quem teima em me molestar.

E como está escrito no Profeta Zacarias, que ninguém que Vos contemple transpassado e crucificado, deixará de comover-se até as lágrimas,32 rogo-Vos, ó bom Jesus, se cumpra em mim esta piedosa profecia. Que eu derrame uma torrente de pranto, que me desfaça e derreta na onda da contrição e compaixão. Ó Chaga sacratíssima do Coração de Jesus, em ti espero.33 Espero o perdão, a graça da santidade e por fim a graça da salvação.

Propósito: A integridade dos ossos de Jesus significa a solidez das virtudes. Deus me livre de uma virtude feita de carinhos, consolações, ternuras e doçuras. O de que preciso é do pão forte da humildade, obediência e caridade. Examinar-me-ei sobre isto.

2ª Meditação: Não quis Nosso Senhor que o ferissem enquanto estava vivo, para que ninguém julgasse sua morte consequência inevitável do violento golpe da lança. O que levou a morrer foi o amor.34 Após o falecimento quis que lhe abrissem o Coração a fim de que através da Chaga exterior pudéssemos penetrar no íntimo de sua Alma e aí contemplar a Chaga espiritual mais profunda e abismal que o amor para conosco lhe abrira.35

Observa, ó minha alma, como o agudo ferro romano lançado com pulso forte, abre-lhe o tórax, interna-se-lhe e transpassa-lhe o Coração de lado a lado.36 Nota como a ferida é tão ampla e de tal comprimento,37 a deixar passar uma mão.38 E agora que estão descerradas as portas deste Coração divino e amantíssimo, entra com a tua mente, circunvaga o teu olhar e contempla extasiado as maravilhas do amor divino.39 Foi esta Chaga invisível e espiritual que como rios de sua fonte, saíram as Chagas visíveis das mãos, dos pés, da cabeça e das outras, espalhadas em todo o Corpo Santíssimo.40 Foi este foco central e inexaurível que produziu toda a tragédia sangrenta da Paixão. Haverá quem tais coisas pense e tal cena contemple sem se sentir violentamente impelido a amar ao bom Deus?41 Mais ainda. Jesus sabe que os meus pecados me enchem de terror e a minha covardia afasta-me da perseverança da divina Majestade. Ora, que faz o amável Senhor! Para dissipar os justos temores da divina justiça, para animar-me a que volte a Ele, me aproxime, e renasça em mim e se fortaleça a esperança do perdão dos meus crimes, curva a cabeça, como que acenando-me e convidando: abre-me o Coração para que aí me acolha como em refúgio seguro.42

Quanta confiança não suscita a Vossa bondade, ó bom Jesus?

Eis que me movo, eis que me aproximo, eis que transponho o limiar deste sancto sanctorum, tremendo de respeito, temeroso, não me repilais, porquanto, grande é a minha indignidade.43 No universo inteiro não há lugar de tão remansosa paz e tão tranquila segurança que a este se compare. É a morada do jubilo, é a fonte da sua vida; é o recreio da alma que procura repouso depois que volta batida pelas procelas das paixões.44 Jesus dulcíssimo, permiti que fixe aqui neste tabernáculo do amor, a minha morada eterna.

Coração puríssimo, trono augusto da Divindade, santuário da caridade, sacrário do amor, humilde e reverencialmente vos saúdo e vos adoro.45 Vós sois a fonte da graça; ora, como admitir que o pobre peregrino que vem da longínqua região do pecado, passe aqui por perto e se lhe negue um pouco de água bendita e refrigerante que lhe mate a sede, que o purifique e salve? Coração doce, manso e suave, de Vós espero a graça da salvação.

Propósito: A devoção ao Sagrado Coração de Jesus! Eis a devoção-rainha que me proponho cultivar com todo afinco, porquanto, ela é a síntese, o conjunto e o resumo de toda nossa fé.

3ª Meditação: Não sentiu Nosso Senhor a lançada porque já era cadáver. Mas, assim como tudo que dEle fora prenunciado se realizou, assim é de supor, seja agora que se cumpre literalmente a profecia do Santo velho Simeão a Maria, quando lá no templo,46 fitando-A com olhar fatídico, lhe disse que, uma espada havia de lhe varar o Coração.47 A Alma de Maria está alojada bem dentro do Coração de Jesus pelo oceânico amor que liga a Mãe ao Filho divino;48 daí pois conhecer que o aço que transpassa o Coração do Redentor transverbere também O da Santíssima Virgem. Por isso, os Padres da Igreja consideram Nossa Senhora mais do que uma simples Mártir, visto como Ela além das dores físicas sofre moral e espiritualmente.49

Grande foi a dor de Maria ao presenciar a Crucifixão do Filho.50 Maior foi a sua aflição ao assistir no lenho o penoso desenrolar das suas agonias, pois que sua Alma era o reflexo e o eco da Paixão do Filho.51 Suma, porém, é a dor atual provocada pelo golpe da lança que a mão brutal de Longuinho arremessou contra o cadáver de Jesus. Foi esta a dor máxima adicionada a inúmeras outras dores, como no corpo de Jesus foi a ferida máxima comparada as outras.52

Enquanto, ó minha alma ofereces o tributo de tua compaixão à Rainha dos Mártires,53 indaga e pesquisa qual a verdadeira causa das dores de Maria Santíssima. O móvel desta grande pena foi o amor. Muito sofre porque muito ama. A dor está na razão direta do amor, e na razão inversa da indiferença. Se portanto pouco ou nenhuma é tua pena, se diminuta é a tua compaixão, se exíguo e leve o teu tributo de pesar pela morte do Salvador, é porque pouco ou nada O amas.

Muito ingrata e de mui dura fibra és, ó minha alma, se a comover-te não vale a morte de um Deus, nem a feroz lançada que te descobriu e revelou em seu Coração o imenso incêndio de amor que teve para contigo!

Repara, ó infeliz, que tateais as trevas, e focinhas nos pântanos, repara que Jesus abrindo-te o peito, oferece-te o Coração.54 Porque não te aproveitas de ocasião tão propícia amando a Jesus por meio do Coração dEle?

Ele te o cede, para que faças dele o uso que melhor te aprouver.

Pois bem, restitui-o, e oferece-o ao Eterno em pagamento da dívida de gratidão e amor que lhe deves.

Pensamento consolador! De fato, é certo que vós, ó Jesus, sois a minha cabeça; ora, se os olhos de minha face, são meus por serem da minha face, porque não será meu o Vosso Coração pertencendo a uma Cabeça que é também minha?55 Nunca pensei em tal; refletindo porém agora, vejo que estou de parabéns, porquanto estou com a solução do intrincado problema nas mãos, havendo encontrado um Coração com o qual ser-me-á dado amar-vos solvendo assim o meu débito. Concedei-me, pois, que por meio do Vosso Coração eu vos ame, ó caro Jesus.56 Virgem Santa, intercedei por mim e assisti-me: porque reconheço-me mui capaz de abusar até do Coração de Jesus. Fazei que meu coração seja todo do vosso Filho, como o de Jesus é todo meu.

Propósito: Por coração aqui, entendem os Santos a vontade. Ora, se a vontade de Jesus é toda minha, é justo que a minha vontade seja toda de Jesus, não à flor de lábios, mas praticamente e através das provas que me surgirem pela frente.57

4ª Meditação: Ferido Jesus em seu lado pela dura lançada, sai-lhe da Chaga um jorro de Sangue misturado com Água;58 demonstrando mais uma vez sua dúplice Natureza; a Humana pela presença dos humores que entram a constituir o composto humano;59 a Divina pelo prodígio que acaba de operar,60 porquanto, apesar de picado, cortado e ferido um cadáver, não há hipótese de nos dar uma gota de água61 ou de sangue.62

É pois esta uma ferida de origem Divina que o Evangelista, não chama com o nome de chaga, mas de abertura, como que a significar a porta da Vida Eterna, aberta à todos que querem salvar-se; a parte mística donde saíram a flux todas as graças, máxime os Sacramentos,63 simbolizado no Sangue e na Água64 espadeirando-se em caudal copioso a fecundar o terreno árido do mundo, a vitalizar a Santa Igreja, a alimentar e confortar os eleitos que jornadeiam em busca da eternidade feliz.65

Muito pois devemos a Jesus por esta nova ferida, a máxima, a qual bem que não lhe fosse dolorosa, não deixou de ser meritória, havendo-a previsto, aceito e oferecido ao Eterno Pai!

Desta Chaga saiu o Sangue da minha redenção que saldou minhas dívidas para com a Justiça Divina. Saiu a Água que me regenerou no Batismo e repetidas vezes me purificou e me lavou na Confissão.66 Desta fonte bendita e inesgotável rebentam todas as graças, todas as bênçãos, e misericórdias que me são necessárias para a vida temporal e eterna.67

Esta Chaga é a Arca Noética, o místico refúgio, onde posso acolher-me para evitar o naufrágio universal. É a enseada segura onde guardo o frágil barquinho da minha alma, quando o mar revolto e encapelado do mundo e das paixões ameaça tragar-me em seus abismos. É o recôncavo da rocha granítica, onde se esconde a ave da minha alma quando regouga o temporal e é batida pela tempestade.

Mas ai de mim! Que esta mesma Chaga me será mostrada um dia pelo meu Salvador transformado em meu Juiz, para convencer-me de ingratidão indesculpável, de rebelião inescusável, caso não corresponda agora as divinas inspirações e não ponha mãos a obra, a tratar do negócio momentoso da minha salvação.68

De todas as minhas iniquidades, contrito e penalizado acuso-me hoje, ó Senhor, arrimado no esteio seguro da vossa misericórdia, certo de que não me serão amanhã lançadas em rosto no tribunal da vossa inflexível Justiça. Lavai-me com esta deificada Água, limpando-me e purificando-me ainda mais com o vosso Sangue.

Permiti escolha o vosso Coração como minha morada permanente.69

Sei que não possuo a limpidez e pureza necessária para habitar Lugar tão santo.

Sei porém, que, se Vós o quiserdes tornareis minha alma inocente e chamejante pela caridade.

Pelos merecimentos pois do vosso Coração acudi-me na vida e amparai-me na morte.

Confio em Vós, sabendo que, se pela vossa misericórdia, tenho-as muito maiores para me alentar e consolar.

Propósito: Belos pensamentos, formosas ideias mas que nada valem sem as obras. Se quero pois hospedar-me no Coração de Jesus, hei de na medida das minhas forças, tornar-me semelhante a Jesus!


Coração Aflito de Jesus, Vítima Universal.70

Assim como todas as águas vão lançar-se no mar, assim todas as aflições se reuniram no Coração de Jesus. Ele as aceitou com o mais sublime devotamento, impelido por Seu amor para conosco, amor que chegou ao excesso e, perdoem-nos a expressão, à loucura: pois, não é uma loucura de amor da parte de Deus, ter querido se carregar de todas as iniquidades do mundo, a fim de sofrer o castigo delas?

Jesus Cristo sabia que todos os sacrifícios dos animais, oferecidos a Deus no passado, não tinham podido satisfazer pelos pecados dos homens, mas que era necessária uma Pessoa Divina para pagar o preço da Redenção: que fez? Ofereceu-Se a Seu Pai, para aplacar Sua ira e obter nosso perdão. Dois caminhos, então, apresentavam-se ante Ele, um, de prazer e glória, outro, de padecimentos e opróbrios; qual deles foi escolhido? Como Ele queria não só nos resgatar da morte, mas ainda conseguir o amor de nossos corações, renunciou ao prazer e à glória, e escolheu os padecimentos e opróbrios.71 Assim é que este amável Senhor, sem ser obrigado, tomou sobre Si todas as nossas dívidas, como claramente se exprime o Profeta Isaías: Vere languores nostros ipse tulit - Verdadeiramente Ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas.72

Eis que, então, o Coração de Jesus, a Inocência, a Pureza, a Santidade mesma, é carregado de todas as blasfêmias, de todas as torpezas, de todos os sacrilégios, de todos os roubos, de todas as impurezas e de todos os crimes dos homens; ei-Lo tornado, por nosso amor, objeto das maldições divinas, por causa de nossos pecados pelos quais Se obrigou a satisfazer à eterna Justiça; ei-Lo carregado de tantas maldições quantos pecados mortais foram, são e serão cometidos sobre a Terra. Neste estado é que Ele se apresenta a Seu Pai, como culpado e responsável por todos os nossos crimes, e Deus, Seu Pai, O condena por isso a padecer morte infame da cruz. Então, foi que nosso Salvador se prostrou com a Face por terra,73 como se tivesse vergonha de levantar os olhos para o Céu, vendo-se carregado de tantas iniquidades. Então, foi que Ele experimentou aquela imensa angústia que lhe fez dizer: Minha Alma está triste até a morte.74 Ó Pai eterno, como podeis ver Vosso Filho amadíssimo em tão grande aflição? Bem sei, diz o Padre eterno, que Meu Filho é inocente, mas, pois que Ele se encarregou de satisfazer à Minha Justiça por todos os pecados dos homens, convém que Eu O abandone a todas às aflições que esses pecados merecem: Eu O feri por causa da iniquidade de Meu Povo.75

Ó caridade incomparável do Coração de Jesus! Ele, nosso Deus, fez-Se nosso Fiador, obrigando-Se a pagar nossas dívidas, segundo a bela expressão do Apóstolo;76 e, depois de ter satisfeito por nós, prometeu-Nos da parte de Deus a Vida Eterna. Também o Eclesiástico nos recomendou, há muitos séculos, nunca nos esquecermos do benefício que devemos a Este Celeste Fiador,77 que quis padecer tanto para nos obter a salvação.

Ó caridade infinita do Coração de Jesus! Os médicos fazem todos os esforços para curarem o enfermo por quem se interessam. Mas, qual é o médico que toma sobre si a enfermidade de outrem, para o curar? Jesus Cristo é o único Médico que tomou sobre Si nossas enfermidades para as curar. O Verbo Divino não quis enviar outrem para fazer este misericordioso ofício; Ele mesmo se dignou vir, para ganhar todo nosso amor.

Ó caridade verdadeiramente divina do Coração de Jesus! Ele não se contentou de oferecer à Justiça Divina uma satisfação suficiente, quis que ela fosse superabundante; digo superabundante, porque, para nos resgatar, uma simples súplica do Homem Deus bastava; mas, o que era suficiente, não satisfazia o Coração mais amante que tem havido e pode haver.

Ó caridade verdadeiramente inefável e inaudita do Coração de Jesus, Vós nos obrigais a pormos em Vós confiança sem limites, pois nada pode nos perturbar tanto, quanto Vós nos podeis sossegar. Cerquem-me os pecados que tenho cometido, apertem-me os temores do futuro, armem laços contra mim os Demônios; se peço misericórdia a Jesus Cristo que me consagrou Seu Amor até morrer por mim, não posso perder a confiança. Como, com efeito, poderia me abandonar o Deus, que por amor de mim se entregou à morte? Ò Coração de Jesus, Vós sois o Porto Seguro daqueles que, na tempestade, recorrem a Vós! Ó Pastor vigilante, é errar, não esperar em Vós, uma vez que se tenha vontade séria de se corrigir. Vós dissestes: “Sou Eu, não temais, Sou Eu que aflijo e consolo. Eu envio algumas vezes a Meus servos tribulações que se assemelham com o Inferno; mas, não tardo em os livrar delas e consolá-los.

Eu Sou vosso Advogado: vossa causa é Minha. Eu Sou vossa caução: vim pagar vossas dívidas. Sou vosso Salvador: resgatei-Vos com o Meu Sangue, não para vos abandonar, mas para vos enriquecer, tendo vós Me custado tão alto preço.

Como fugirei de quem Me busca, Eu que saí ao encontro daqueles que queriam me ultrajar? Eu não voltei Meu rosto daqueles que Me feriam; voltá-lo-ei daquele que quer Me adorar? Como Meus filhos podem duvidar que os amo, vendo-Me entre as mãos de Meus inimigos por seu amor? Já Me viram desprezar aquele que Me deu seu amor, ou aquele que implorava Meu socorro? Eu chego ao ponto de ir à procura de quem não Me busca”.

Prática

Minha confiança no Coração de Jesus será sem limites, pois o amor que Ele me tem, é sem limites. Venham perseguições, securas, escrúpulos, tentações, temores de perder-me, direi sempre com o Salmista: Ponho, Senhor, minha alma entre vossas Mãos; confio plenamente em Vós, porque me resgatastes.78

Afetos e Súplicas

Meus Jesus, se Deus Vos carregou de todos os pecados dos homens,79 com que peso não aumentei pelos meus a Cruz que levastes até ao Calvário? Ah! Meu terno Salvador, Vós  víeis já, então, as injúrias que eu vos havia de fazer: apesar disto, não deixastes de amar-me e preparar-me estas grandes misericórdias, de que me cumulastes depois. Se, então, vos tenho sido tão caro, eu, o mais vil e ingrato dos pecadores, que tanto Vos ofendi, justo é que, a vosso turno, Vós me sejais caro, ó meu Deus, Bondade e Beleza infinitas. Ah! Oxalá nunca Vos houvesse contristado! Agora, meu Jesus, vejo toda a indignidade de meu procedimento. Malditos pecados, enchestes de amargura o Coração tão terno e amante do meu Redentor! Perdoai-Me, meu Jesus, arrependo-me de Vos ter ofendido: no futuro sereis o único objeto de meu amor. Ó Amabilidade infinita, eu Vos amo de todo o meu coração, resolvido a não amar mais senão a Vós. Senhor, com Santo Inácio Vos digo: Dai-Me vossa Graça e vosso Amor, e satisfeito fico.

Oração Jaculatória

Cordeiro sem mancha, tantos padecimentos que sofrestes por mim, não fiquem perdidos!

Exemplo

Joaquim Gaudiello, irmão leigo da Congregação do Santíssimo Redentor, foi toda a sua vida ardente amigo da cruz, o que o tornou singularmente caro ao Coração generoso de Jesus.

Quando ele se resolveu a ser religioso, perguntaram-lhe porque queria abraçar condição tão humilde: “É porque, respondeu ele, quero com o desprezo do mundo seguir a Jesus Cristo vilipendiado e desprezado”. Joaquim não cessou de fazer a seu corpo guerra cruel, sujeitando-o à mortificação e ao trabalho, e, o que é digno dos maiores elogios, soube unir os trabalhos manuais com o mais alto espírito de oração. Recorria a Deus em todas as suas necessidades, “porque Ele é meu Pai, dizia, a Ele recorro como filho Seu”. Jesus no Santíssimo Sacramento tinha absorvido seu coração; ele vivia tão ávido da Santa Comunhão, que lhe permitiram fazê-la todos os dias. Em seus momentos de lazer, recolhia-se à igreja para derramar seu coração no Coração do amável Jesus. Como Jesus era toda a sua glória, Joaquim não tinha em conta alguma as vaidades do mundo, e punha toda a sua felicidade nas humilhações e nos desprezos. “Que é o mundo, costumava dizer, ainda às mais altas personagens, que é o mundo senão uma sombra, um fumo, mas, fumo do Inferno?” Apenas na idade de 22 anos, enfermou-se, e dessa doença morreu. Interrogado como passava no leito de dores: “contemplo no meu espelho”, respondeu mostrando o crucifixo. Seu amor dos padecimentos e sua conformidade com a vontade de Deus eram verdadeiramente admiráveis. A um padre que lhe perguntou certo dia, quando ele queria ir para o Céu, respondeu todo alegre: “Quero ir, quando meu Jesus o quiser”. Seu amor ao Santíssimo Sacramento era tão terno, que parecia transformá-lo em serafim, quando diante do tabernáculo. Um dia num transporte de amor, ele disse ao padre Mazzini: “Tomai um cutelo, abri meu peito, tirai meu coração e colocai-o no tabernáculo junto do Santíssimo Sacramento”. Sua tristeza era não poder morrer crucificado como Jesus Cristo. Dizia-se-lhe, para o consolar, que seu leito era uma cruz: “Não, respondia gemendo, não é cruz para mim, porque sou fortificado por Jesus crucificado e consolado nas amarguras”. Puseram diante dele uma pequena estátua de Jesus atado à coluna; apenas a viu, desfez-se em lágrimas, e disse suspirando: “Ai! Não poder eu tornar-me semelhante a Vós, ó meu Jesus flagelado por mim! Enviai-me padecimentos e chagas, ó meu Salvador!” Sentindo que a morte se aproximava, ele testemunhou desejo de receber a Extrema Unção, dizendo: “É a última consolação que Jesus Cristo nos deixou na Sua bondade”. Depois de ter recebido a Santa Comunhão, ficou arrebatado fora de si; sua figura assumiu ar angélico, e todo o dia ele ficou neste estado sobrenatural. Pela tarde, perguntaram-lhe como estava: “Eu sinto, disse, Jesus no meu coração”. Na véspera de sua morte, exclamava em celeste transporte: “Paraíso! Paraíso!” Sendo o primeiro redentorista que morria, ele dizia a seus irmãos, por último adeus, estas luminosas palavras: “Eu sou o porta-estandarte!” Sua agonia foi um ato ininterrupto de amor, e ele expirou pronunciando os Santos Nomes de Jesus e Maria, em 1741. O Senhor se dignou manifestar, por diversos prodígios, a santidade de Seu servo. Santo Afonso lhe chamava “moço dotado de todas as virtudes”.


A Humildade de Coração
Segundo o Sagrado Coração de Jesus80

Ó Jesus manso e humilde de Coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso.

1 – Só uma vez Jesus disse expressamente: aprendei de Mim, e disse-o a propósito da humildade: “Aprendei de Mim que Sou manso e humilde de Coração”.81 Sabendo bem como seria difícil à nossa natureza orgulhosa, a prática da verdadeira humildade, parece ter querido dar-nos assim um particular estímulo. O Seu exemplo, as Suas inauditas humilhações que O tornaram “o opróbrio dos homens e a abjeção da plebe”,82 que por nós O “fizeram pecado83 e que O carregaram com todas as nossas iniquidades, até ao ponto de ser “contado entre os maus”,84 são o maior estímulo e o maior convite à prática da humildade.

Jesus fala-nos diretamente da humildade do coração porque toda a virtude, toda a reforma de vida, para serem sinceras devem provir do coração, de onde vêm os pensamentos e as ações. Uma atitude exterior, um modo de falar humilde, são vãos sem a humildade de coração e são muitas vezes a máscara de um orgulho refinado e por isso mais perigoso. “Purificai primeiro o que está dentro – dizia Jesus condenando a hipocrisia dos fariseus – para que também o que está fora fique limpo”.85 E Santo Tomás ensina que “da disposição interior para a humildade procedem certos sinais nas palavras, nos gestos, nas ações, mediante os quais se manifesta no exterior o que está escondido no interior”.86

Se queres, pois, ser verdadeiramente humilde, exercita-te acima de tudo na humildade do coração, aprofundando cada vez mais o conhecimento sincero do teu nada e da tua pequenez. Aprende a reconhecer sinceramente os teus defeitos, as tuas faltas, sem as quereres atribuir senão à tua miséria, e reconhece o bem que está em ti como puro dom de Deus, nunca o julgando propriedade tua.

2 – A humildade do coração é uma virtude difícil e fácil ao mesmo tempo; difícil, porque contraria o orgulho que nos leva a exalta-nos; fácil, porque não precisamos de ir longe procurar-lhe as causas, já que as temos – e com que abundância! – em nós próprios, na nossa miséria. Para sermos humildes, porém, não basta sermos miseráveis; só é humilde quem reconhece sinceramente a própria miséria e age em consequência.

Como o homem é soberbo por instinto, não pode chegar a este reconhecimento sem a graça de Deus. Mas como Deus não recusa a ninguém as graças necessárias, dirigi-te a Ele e, com confiança e constância, pede-lhe a humildade do coração. Pede-lha em nome de Jesus que tanto Se humilhou para a glória do Pai e para tua salvação, “pede em seu nome e receberás”. 87 Se apesar do desejo sincero de te tornares humilde, sentes, muitas vezes, agitarem-se em ti movimentos de orgulho, de vanglória, de vã complacência, em vez de desanimares, reconhece-os como fruto da tua má natureza e serve-te deles como de um novo motivo para te humilhares.

Lembra-te, além disso, de que podes praticar sempre a humildade do coração, mesmo quando não puderes fazer atos particulares e exteriores de humildade, quando ninguém te humilha, quando até pelo contrário, és alvo da confiança, da estima, do louvor dos outros. Santa Teresa do Menino Jesus dizia em tais circunstâncias: “Isto não poderia inspirar-me vaidade, tenho continuamente presente no pensamento, a lembrança do que sou”;88 e tu pensa que “não és mais santo por ser louvado ou mais pecador por ser censurado”.89 Assim quanto mais te exaltarem, mais te deves humilhar em teu coração. Praticada desta maneira, a humildade do coração far-te-á conceber tão baixo conceito de ti mesmo, que jamais serás capaz de preferir-te a alguém, pois todos julgarás melhores do que tu, mais dignos de estima, de respeito, de consideração; assim estarás em paz, nunca sendo perturbado pelo desejo de superar os outros nem pelas humilhações recebidas. A paz interior é fruto da humildade, pois Jesus disse: Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração e achareis descanso para as vossas almas”.90


O Sagrado Coração de Jesus
não Pode nos Enganar

Consideremos, que não é só a excelência do Coração de Jesus, por ser Coração de um Deus, como... meditamos, que nos deve determinar a abraçar a Sua Devoção; mas, também, as Promessas das Graças com que o próprio Jesus afirmou estar disposto a enriquecer os devotos do Seu Coração. E quanto necessitamos nós dessas graças, sem as quais nada podemos nós, bem no-lo ensina a Fé e o Evangelho, que registrou estas palavras saídas de Seus lábios divinos: 'Sem Mim, sem a Minha Graça, nada podereis fazer'91. Despertemos, pois, a nossa Fé, lembrados de que Jesus é a Verdade, e que, por conseguinte, não pode mentir, nem faltar à palavra dada em favor dos devotos de Seu Coração, a não ser que deixemos de praticar com fervor, sinceridade e perseverança esta Devoção; e, para estimular cada vez mais a nossa piedade, recordemos (sempre) estas Promessas.

Está, pois, em nossas mãos enriquecermo-nos com tamanhos Tesouros. Se, porventura, não temos visto realizadas em nós estas Promessas, examinemos, se a nossa devoção tem sido constante, ou se depois de empreendida, não a temos descuidado; se tem sido verdadeira, a saber, se temos acompanhado a sua prática com a emenda da nossa vida e com a fuga dos pecados voluntários; se tem sido sempre acompanhada de confiança e alimentada pela firme esperança de conseguir o que temos pedido, pelos merecimentos do Divino Coração. Não nos afastemos hoje dos pés de Jesus Cristo, sem tomar a firme resolução de acabar com os defeitos cometidos até ao presente, na prática desta santa Devoção, e confiemos em Sua Palavra, que não deixará de conceder-nos as Graças prometidas”.92

Eu o Senhor, a seu tempo farei (tudo) isto subitamente”.93

Por amor de Mim, por amor de Mim o farei, para que Eu não seja blasfemado (pelos teus inimigos)”.94

Se não cremos, Ele permanece fiel, não pode negar-Se a Si mesmo”.95

Deus é verdadeiro”.96


A Chave do Céu

Alma cristã, queres de hoje em diante viver segura, garantindo o importante negócio da tua salvação eterna? Queres adquirir o direito à glória eterna do Céu? Pois bem, tu já viste que o Sagrado Coração de Jesus, no excesso da misericórdia do Seu amor, pôs em tuas mãos a chave de ouro que te abrirá as portas do Céu, no último instante de tua vida. Esta chave de ouro está à tua disposição, basta que a queiras, basta que faças as nove sextas-feiras em honra do Sacratíssimo Coração Jesus. Podia bem o Bom Jesus liberalizar-te, melhor do assim, a salvação de tua alma? Grata e reconhecida, prostra-te a Seus pés, agradece-Lhe de todo o coração por ter posto a teu dispor um meio tão fácil de salvação e promete-Lhe que hás de começar já esta devoção. Feliz de ti se perseverares: o Paraíso será teu galardão, porque bem o sabes, Jesus é fiel em Suas promessas.97


Os Emblemas do Santíssimo Coração de Jesus98

As Chamas

Considerações: É manifesta a significação das chamas que cercam o Sagrado Coração. Santa Margarida viu-as já envolvendo toda a Pessoa de Jesus Cristo, já agitando-se como labareda dentro do seu Peito aberto pela Chaga do Lado. – O meu divino Salvador, diz a Santa, significou-me que as chamas simbolizam a abundância dos tesouros, cujo manancial se encontra no seu Coração. Numa palavra, todos os instrumentos da Paixão que o rodeiam, mas, sobretudo, as chamas, significam que o amor imenso deste divino Coração para com os homens foi a causa de todos os sofrimentos e amarguras que por nós quis sofrer.

Aplicações: O amor do Coração de Jesus, tanto o amor eterno do Verbo Divino, como o seu amor humano depois de incarnar, mostrou-se por obras admiráveis, que os Santos chamam loucuras de amor. Sendo Deus, tomou por nosso amor a forma de servo, quis ser menino, padecer pobreza e fadiga... sofreu todas as nossas misérias, exceto o pecado.

Afetos: O vosso Coração Divino vos levou, meu Salvador, a morrer entre atrozes tormentos por nós escravos e pecadores! E subindo ao Céu achastes modo de ficar ao mesmo tempo na terra embora escondido no Sacramento dos nossos altares, onde sois o viático da nossa alma! E lá no Seio do Eterno Pai intercedeis por nós e mandais à nossa alma o vosso Divino Espírito.

O amor mostra-se por obras, não consiste em palavras apenas. E quais são as obras com que temos correspondido ao amor do Coração de Jesus? Como estará queixoso da nossa frieza e ingratidão!

Propósitos: Acendamos o nosso amor na devoção ao Sagrado de Jesus, na meditação e sobretudo na comunhão, que é o Sacramento do amor. As faltas voluntárias são grande impedimento ao fervor da caridade. Examinemo-nos. Tenhamos confusão e pesar. Supliquemos ao Coração de Jesus que mande ao nosso coração, como fez a Santa Margarida Maria, uma das chamas que O abrasam!

A Cruz

Considerações:A Cruz”, segundo Santa Margarida Maria, “significa que desde o primeiro instante da Incarnação, isto é, desde que foi formado o Santíssimo Coração, lhe estiveram presentes e aceitou por nosso amor todas as humilhações e dores que havia de sofrer na sua Humanidade Sagrada, no curso da sua vida mortal e durante a Paixão, e os ultrajes a que havia de estar exposto pela maldade dos homens até ao fim dos séculos no Sacramento Augustíssimo dos nossos altares – Com batismo de sangue hei de ser batizado e como estou cheio de ânsias até alcançar esse meu desejo”, disse Jesus.99

Aplicações: Sem amor à cruz, isto é, sem espírito de sacrifício, não pode haver progresso na virtude nem zelo da glória de Deus. Quem ama a sua vida, diz Jesus, perdê-la-á. Qual é o nosso amor à cruz? Estamos dispostos a sacrificar por amor de Jesus a nossa reputação, a desprezar a estima das criaturas, a vencer os respeitos humanos? Aceitamos com paciência e até com amor as pequenas cruzes que o Senhor nos manda cada dia? Estamos prontos a sacrificar comodidades e tudo quanto há neste mundo e a mortificar as nossas paixões desordenadas, para conservar a graça de Deus, imitar a Jesus... mostrar-lhe o nosso amor? Estaríamos dispostos a dar por Ele a nossa vida, como os Mártires? Quem foge da Cruz, foge de Jesus.

Afetos: Peçamos instantemente ao Sagrado Coração o espírito de sacrifício.

A Coroa de Espinhos e a Ferida do Coração

Considerações: Segundo o Divino Salvador explicou a Santa Margarida Maria, a coroa de espinhos significa os desgostos e amarguras que lhe causaram nossos pecados. Os soldados no pretório de Pilatos puseram na Cabeça de Jesus uma coroa de agudos espinhos, mas bem mais cruéis são os espinhos que nós ousamos cravar no seu Coração, caindo em novos pecados.

A ferida aberta mostra-nos que esse Coração foi ferido para ser o nosso asilo e refúgio. O vosso lado, ó Jesus, diz São Bernardo, foi atravessado para nos abrir a entrada do Vosso Coração.

Aplicações: Jesus, no Jardim das Oliveiras, vendo a ingratidão com que os homens haviam de corresponder ao seu amor, a impiedade dos idólatras e infiéis, as heresias, blasfêmias e sacrilégios e toda a sorte de abominações dos mesmos batizados, e mais ainda as friezas e pecados das almas que lhe são consagradas, sentia no seu Coração uma agonia de morte. À Santa Margarida Maria pedia que as almas que mais o conhecem arrancassem esses espinhos com atos de desagravo e de amor e emendando-se de suas culpas voluntárias.

Temos procurado desagravar ou consolar assim o Sagrado Coração de Jesus? A Chaga aberta está nos convidando à confiança. Quem há de temer vendo que o Coração de Jesus está aberto para nosso refúgio? Nada nos assuste, nem mesmo os nossos enormes pecados. Esse Coração aberto é abrigo seguro, tanto na vida, como na morte. Procuremos esconder-nos nessa Chaga quando os trabalhos e tentações nos expuserem ao perigo de perder a paciência e a graça de Deus.

Colóquio: Façamos fervorosos atos de desagravo e reparação pelos espinhos que os homens e nós mesmos continuamos a cravar nesse Coração Divino. Pratiquemos a Comunhão reparadora e façamos-lhe visitas de desagravo.100 Excitemo-nos à confiança. Repitamos muitas vezes a jaculatória indulgenciada: Sagrado Coração de Jesus, tenho confiança em Vós.


____________________

1.  Biblia Sacra Juxta Vulgatam Clementinam, Evangelium Secundum Joannem, Cap. XIII, 23-27; Typis Societatis S. Joannis Evang., Desclée et Socii Edit. Pont., Romae – Tornaci – Parisiis, 1927.

2.  Bíblia Sagrada – Traduzida da Vulgata e Anotada pelo Pe. Matos Soares, Evangelho de Jesus Cristo Segundo São João, Cap. 13, 23-27; 13ª Edição, Edições Paulinas, São Paulo, 1961.

3.  Jo. 13, 25.

4.  “Evangelho de S. João Comentado por S. Agostinho”, Vol. II, Tratado XVIII, p. 27; versão do latim por Pe. José Augusto Rodrigues Amado, editora Casa do Castelo, Coimbra, 1945.

5.  Este texto, inspirado em várias passagens da Escritura, foi tirado do Ofício Comum dos Apóstolos, responsório breve da 7ª lição.

6.  Gên. 44, 1-14.

7.  Aqui se reconhece o Apóstolo amado, São João Evangelista.

8.  Mat. 20, 22; Marc. 10, 38.

9.  Mat. 20, 22.

10.  S. Luís Mª G. de Montfort, “Carta Circular aos Amigos da Cruz”, parág. 24, p. 33; Editora Santa Maria Ltda, Rio de Janeiro.

11.  “O Santo Evangelho de Jesus Cristo”, Evangelho de S. João, Cap. 13, 23, p. 375; pelo Revmo. Pe. José Lourenço, O.P., 3ª edição, edição da União Gráfica, Lisboa, 1939.

12.  “Novo Testamento”, Evangelho de S. João, Cap. 13, 23, p. 297; verão da Vulgata por D. Vicente M. Zioni com comentário do Pe. E. Tintori, O.F.M., Edições Paulinas, S. Paulo, 1964.

13.  “Novo Testamento”, 1ª Parte, Evangelhos e Atos dos Apóstolos, Evangelho de S. João, Cap. 13, 23-27, pp. 250-251; tradução segundo a Vulgata e resumo do comentário de Mons. Dr. José Basílio Pereira, Editores – Os Religiosos Franciscanos, Typ. de S. Francisco, Bahia, 1920.

14.  “Concordância dos Santos Evangelhos ou Os Quatro Evangelhos Reunidos em um Só”, Evangelho de S. João, Cap. 13, 23, p. 337; por Cônego Duarte Leopoldo, 4ª edição, Linográfica, S. Paulo, 1951.

15.  “Synopse Evangélica ou Texto harmonizado dos Quatro Evangelhos – segundo os Últimos Dados da Ciência”, Evangelho de S. João, Cap. 13, 23, p. 313; por um Pe. da Congregação da Missão, Estabelecimentos Brepols, A. G., Turnhout – Bélgica, 1911.

16.  “Nuevo Testamento”, Ev. S. Juan, 13, 23, p. 344; Versíon directa del texto original griego por Eloíno Nácar Fuster y Alberto Colunga Cueto, O.P., Biblioteca de Autores Cristianos – BAC, Madrid, 1960.

17.  “Vida de Cristo”, Cap. 38 – Judas, p. 421; por Fulton J. Sheen, tradução de M. Gonçalves da Costa, Editora Educação Nacional, Porto, 1959.

18.  V. Mauduit, Analys. De l'Evang., t. IV, dissertação XXXIV, p. 620.

19.  Origen. In Joan.

20.  “O Apóstolo S. João”, Cap. VII, II, p. 104; por Mons. Baunard, tradução de T.C.M., 2ª edição, Irmãos Pongetti – Editores, Rio de Janeiro, 1951.

21.  Rev. Pe. Fr. Caetano Maria de Bergamo, OFM.Cap., “Pensamentos e Afetos sobre a Paixão de Jesus Cristo para cada dia do ano – Extraídos da Sagrada Escritura e dos Santos Padres”, Vol. 2, Cap. CCCLIV, pp. 991-1001; tradução de Frei Marcellino de Milão, OFM.Cap., Escola Tipográfica Salesiana, Bahia, 1933.

22.  Jo. 19, 31.

23.  S. Agostinho, Tract. 120 in Jo.

24.  Jo. 19, 32.

25.  Jo. 19, 34. S. Cyrill. Alex.., in Jo. 19. Theoph., in Jo. 19.

26.  S. João Crisóstomo, Hom. 84 in Jo.

27.  Num. 9, 12. S. Beda in Jo. 19.

28.  S. Cipriano, Serm. De pass. Dom.

29.  S. Agostinho, in psalm. 52.

30.  Psalm. 52, 2; Os. 33, 21.

31.  S. Bernardo, Serm. De Adv.

32.  Zac. 12, 10.

33.  S. Agostinho, Manu., cap. 21.

34.  S. Agostinho, Manu., cap. 21.

35.  S. Bernardo, Tract. De pass. Dom., cap. 3.

36.  S. Brígida, Lib., 2 Revel., cap. 21.

37.  S. Boaventura, Medit., vit. Christ., cap. 80.

38.  Jo. 20, 27.

39.  S. Bernardo, loc. cit.

40.  S. Agostinho, Manu., cap. 21.

41.  S. Bernardo, loc. cit.

42.  Is. 2, 10; Abb. Guerric., Serm. 4 in ram. palm.

43.  S. Bernardo, eod. Loc; S. Anselmo, de Redempt., cap. 7.

44.  S. Agostinho, in Manu., cap. 33.

45.  S. Bernardo, Orat. rhythm. De pass. Dom.

46.  S. Bernardo, Serm. Signum mag. de B. Virg.

47.  Luc. 2, 35.

48.  S. Bernardo, loc., cit.

49.  S. Bernardo, loc., cit.

50.  S. Lourenço Justiniano, de Triumph. Chr. Ago.., cap. 6.

51.  S. Laur. Just. eod. Loc. cap. 18.

52.  S. Boaventura, Medit. Vit. Chr. c. 80.

53.  S. Boaventura, Stim. am., p. 1, c. 4.

54.  S. Lourenço Justiniano, de incend. Dib. am., cap. 1.

55.  S. Bernardo, tract., de pass., Dom., cap. 8.

56.  2 Reg. 7, 27.

57.  S. Bernardo, Rhythm., de pass. Dom.

58.  Jo. 19, 34.

59.  S. Tomás, 3 p., qu. 66, art. 4 ad 3.

60.  Idem, ibid.

61.  Euthym., in Jo. 19.

62.  Theoph., in Jo. 19.

63.  S. Agostinho, tract., 120, in Jo.

64.  S. Cipriano, serm. De pass. Dom.

65.  Theoph., loc. cit.

66.  S. Atanásio, serm. De pass. Dom.

67.  S. Cipriano, serm. De pass. Dom.

68.  S. Agostinho, tract. 110, in Jo.; Idem in Symbolo.

69.  S. Bernardo, tract. De pass. Dom., c. 3.

70 “O Sagrado Coração de Jesus, segundo Santo Afonso de Ligório...”, pelo Pe. Saint-Omer, CSsR, Cap. “Hora Santa de Março”, pp. 218-225; 5ª Edição, Tipografia de Frederico Pustet, Ratisbona, 1926. Tradução Portuguesa feita da 83ª Edição, pelo Exmo. Revmo. Sr. D. Joaquim Silvério de Souza, Arcebispo de Diamantina.

71.  Heb. 12, 2.

72.  Is. 53, 4.

73.  Mat. 26, 39.

74.  Mat. 26, 37-38.

75.  Is. 53, 8.

76.  Heb. 7, 22.

77.  Eclo. 29, 20.

78.  Salm. 30, 6.

79.  Is. 53, 6.

80.  Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, “Vivendo a Quaresma”, Meditação sobre “A Humildade de Coração”, pp. 175-176; Edições Apostólicas, Campos dos Goytacazes-RJ, 2010.

81.  Mat. 11, 29.

82.  Salm. 21, 7.

83.  II Cor. 5, 21.

84.  Marc. 15, 28.

85.  Mat. 23, 26.

86.  Iia Iae, q. 161, a 6.

87.  Jo. 16, 24.

88.  M.C. pág. 297.

89.  Imit. II, 6, 3.

90.  Mat. 11, 29.

91.  Jo. 15, 5.

92.  Francisco Vannutelli, S.J., “O Mês de Junho Consagrado ao Santíssimo Coração de Jesus”, Segundo Dia, pp. 19-22; Traduzida da 2ª Edição Italiana por D. Francisco do Rego Maia, 6ª Edição Brasileira, Casa Duprat, São Paulo, 1934.

93.  Is. 60, 22.

94.  Is. 48, 11.

95.  II Tim. 2, 13.

96.  Rom. 3, 4.

97.  Frei Salvador do Coração de Jesus (Terceiro dos Menores Capuchinhos), “A Grande Promessa do Sacratíssimo Coração de Jesus”, p. 19; Tradução do italiano, com autorização do Autor, por uma zeladora do Apostolado da Oração, Edições A Nação, Porto Alegre, 1944.

98.  Pe. Bruno Vercruysse, S.J., “Meditações Práticas para Todos os Dias do Ano”, Tomo II, Meditações Suplementares – Outubro, pp. 528-531; Terceira Edição, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1950.

99.  Luc. 12, 50.

100.  São práticas muito indulgenciadas para todos os fiéis. Os associados do Apostolado da Oração podem lucrar uma Indulgência Plenária, tanto pela Comunhão reparadora, como pela Hora Santa.


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