Blog Católico, para os Católicos

BLOG CATÓLICO, PARA OS CATÓLICOS.

"Uma vez que, como todos os fiéis, são encarregados por Deus do apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, os leigos têm a OBRIGAÇÃO e o DIREITO, individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é ainda mais presente se levarmos em conta que é somente através deles que os homens podem ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária que, sem ela, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito" (S.S. o Papa Pio XII, Discurso de 20 de fevereiro de 1946: citado por João Paulo II, CL 9; cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 900).

domingo, 4 de dezembro de 2011

Aborto: O Maior Genocídio da História da Humanidade, Parte 2.

Uma Fotografia Reveladora

 

Um fotógrafo que fez a cobertura de uma intervenção cirúrgica para espinha bífida, realizada dentro do útero materno num feto de apenas 21 semanas de gestação, numa autêntica proeza mé­dica, nunca imaginou que a sua máquina fotográfica iria registar talvez o grito a favor da vida mais eloquente conhecido até hoje.

Enquanto Paul Harris cobria, na Universidade de Vanderbilt em Nashville, Tennessee, aquilo que considerou uma das boas notícias no desenvolvimento deste tipo de cirurgias, captou o momento em que o bebé tirou sua mão pequena do interior do útero da mãe, tentando segurar um dos de­dos do doutor que estava a operá-lo.

A espetacular fotografia foi publicada por vários jornais nos Estados Unidos, e cruzou o mundo até chegar à Irlanda, onde se tornou uma das mais fortes bandeiras contra a legalização do aborto. A mão pequena que comoveu o mundo pertence a Samuel Alexander, nascido a 28 de dezembro 1999 (no dia da foto ele tinha 3 meses de gestação). Quando pensamos bem nisto, a foto é ainda mais eloquente. A vida do bebé está literalmente por um fio; os especialistas sabiam que não con­seguiriam mantê-lo vivo fora do útero materno e que deveriam tratá-lo lá dentro, corrigir a anoma­lia fatal e fechá-lo para que o bebé continuasse seu crescimento normalmente.

Por tudo isto, a imagem foi considerada como uma das fotografias médicas mais importantes dos últimos tempos e uma recordação de uma das operações mais extraordinárias efetuadas no mun­do.

A história por trás da imagem é ainda mais impressionante, pois reflete a luta e a experiência pas­sadas por um casal que decidiu esgotar todas as possibilidades, até o último recurso, para salvar a vida do seu primeiro filho.

Essa é a odisseia de Julie e Alex Arms, que moram na Geórgia, Estados Unidos. Eles lutaram du­rante muito tempo para ter um bebé. Julie, enfermeira de 27 anos de idade, sofreu dois abortos antes de ficar grávida do pequeno Samuel. Porém, quando, completou 14 semanas de gestação, começou a sofrer câimbras fortes, e um teste de ultra-som mostrou as razões. Quando foi revela­da a forma do cérebro e a posição do bebé no útero, o teste comprovou problemas sérios.

O cérebro de Samuel estava mal-formado e a espinha dorsal também mostrou anomalias. O diagnóstico, como já era esperado, foi de que o bebé sofria de espinha bífida e eles poderiam decidir entre um aborto ou um filho com sérias incapacidades.

De acordo com Alex, 28 anos, engenheiro aeronáutico, eles sentiram-se destruídos pelas notícias, mas o aborto nunca seria uma opção. Em vez de se deixar ir abaixo, o casal decidiu procurar uma solução pelos seus próprios meios e foi então que ambos começaram a procurar ajuda através da Internet. A mãe de Julie encontrou uma página que trazia detalhes de uma cirurgia fetal experi­mental desenvolvido por uma equipe da Universidade de Vanderbilt. Deste modo, entraram em contacto com o Dr. Joseph Bruner (cujo dedo Samuel segura na foto) e começou uma corrida con­tra o tempo.

Uma espinha dorsal bífida pode levar a danos cerebrais, gerar paralisias diversas e até mesmo uma incapacidade total. Porém, quando pode ser corrigido antes de o bebê nascer, muitas são as chances de cura. Apesar do grande risco por o bebê não poder nascer ainda naquele momento, os Arms decidiram recomendá-lo a Deus. A operação foi um sucesso. Nela, os médicos puderam tratar o bebé, cujo tamanho não era maior do que o de um porquinho da índia – sem o tirar do úte­ro, fechar a abertura originada pela deformação e proteger a coluna vertebral de modo a que os sinais vitais nervosos pudessem ir agora para o cérebro.

Samuel tornou-se o paciente mais jovem que foi submetido a esse tipo de intervenção e, embora ainda não tenha sentido a pele da mãe e ainda não conheça o mundo que há fora do útero, é per­feitamente possível que Samuel Alexander Arms aperte novamente a mão do médico Bruner.


Aborto: Que Diz a Ciência?

No século XIX descobriu-se que a partir da concepção tínhamos um novo ser humano e que, por isso, o aborto consistia em matar deliberadamente um ser humano inocente. Interessa, pois, saber se desde então foi feita alguma descoberta científica que anulasse ou questionasse as descobertas desse século.


Os livros a seguir citados são usados em cerca de 80% das Faculdades de Medicina dos Estados Unidos da América e em muitos outros países do mundo. Os sublinhados foram acrescentados ao texto.
  • Zigoto. Esta célula resulta da fertilização de um oócito por um espermatozoide e é o início de um ser humano… Cada um de nós iniciou a sua vida como uma célula chamada zigoto.” (K. L Moore. The Developing Human: Clinically Oriented Embryology (2nd Ed., 1977), Philadelphia: W. B. Saunders Publishers)”Da união de duas dessas células [espermatozoide e oócito] resulta o zigoto e inicia-se a vida de um novo indivíduo. Cada um dos animais superiores começou a sua vida como uma única célula.” (Bradley M. Palten, M. D., Foundations of Embryology (3rd Edition, 1968), New York City: McGraw-Hill.)”A formação, maturação e encontro de uma célula sexual feminina com uma masculina, são tudo preliminares da sua união numa única célula chamada zigoto e que definitivamente marca o início de um novo indivíduo “. (Leslie Arey, Developmental Anatomy (7th Edition, 1974). Philadelphia: W. B. Saunders Publishers)”O zigoto é a célula inicial de um novo indivíduo.” (Salvadore E. Luria, M. D., 36 Lectures in Biology. Cambridge: Massachusetts Institule of Technology (MIT) Press)
    Sempre que um espermatozoide e um oócito se unem, cria-se um novo ser que está vivo e assim continuará a menos que alguma condição específica o faça morrer:” (E. L. Potter, M. D., and J. M. Craig, M. D Palhology of lhe Fetus and lhe lnfant, 3rd Edition. Chicago: Year Book MedicaI Publishers, 1975.)
    O zigoto (…) representa o início de uma nova vida.” (Greenhill and Freidman’s, Biological Principies and Modem Practice of Obstetrics)
Como já se disse o valor científico destas afirmações é inquestionável, pois constam dos livros adotados pela maioria das Faculdades de Medicina dos EUA.
  • Em 1971 o Supremo Tribunal de Justiça dos EUA pediu a mais de duzentos cientistas, entre os mais prestigiados especialistas americanos, que elaborassem um relatório sobre o desenvolvimento embrionário. Esse documento diz o seguinte:

    “Desde a concepção a criança (1) é um organismo complexo, dinâmico e em rápido crescimento. Na sequência de um processo natural e contínuo o zigoto irá, em aproximadamente nove meses, desenvolver-se até aos triliões de células do bebé recém-nascido. O fim natural do espermatozoide e do óvulo é a morte, a menos que a fertilização ocorra. No momento da fertilização um novo e único ser é criado, o qual, embora recebendo metade dos seus cromossomas de cada um dos progenitores, é completamente diferente deles”. (Amicus Curiae, 1971 Motion and Brief Amicus Curiae of Certain Physicians, Professors and Fellows of the American College of Obstetrics and Gyneco1ogy, Supreme Court of the United States, October Term, 1971, No. 70-18, Roe v. Wade, and No. 70-40, Doe v. Bolton.)
Em 1981 o Senado dos EUA estudou a chamada Human Life Bill. Para o efeito ouviu durante oito dias os maiores especialistas do mundo na questão (americanos e não só). Ao todo foram feitos cinquenta e sete depoimentos. No final, o relatório oficial dizia o seguinte:
  • Médicos, biólogos e outros cientistas concordam em que a concepção marca o início da vida de um ser humano – um ser que está vivo e que é membro da nossa espécie. Há uma esmagadora concordância sobre este ponto num sem-número de publicações de ciência médica e biológica.” (Report. Subcommittee on Separation ofPowers to Senate Judiciary Committee 5-158. 97th Congress. 1st Session 1981. p. 7.) Sublinhados nossos.
Conclusão

1. A partir do momento da concepção, do ponto de vista biológico, temos um ser vivo. A expressão “ser vivo”, aparece nesta frase com o mesmo valor e significado com que aparece na frase “A Rainha de Inglaterra, do ponto de vista biológico, é um ser vivo”.

2. Este ser vivo está individualizado.

3. Este ser vivo pertence a uma espécie definida: a espécie à qual pertencem todos os seres humanos. Portanto:

4. A partir do momento da concepção, do ponto de vista biológico, temos um ser vivo, individualizado e humano. Estas palavras têm todas exatamente o mesmo valor e significado com que aparecem na afirmação “A Rainha de Inglaterra, do ponto de vista biológico, é um ser vivo, individualizado e humano”.

Está completamente fora de dúvidas que o aborto mata um ser humano. Aos defensores do aborto resta explicar como se pode defender a morte arbitrária de seres humanos inocentes.

(1) No original: “From conception the child (…)”. Muitas pessoas pretendem que o aborto não mata um bebé: o que mata é um feto. É curioso notar que duzentos especialistas americanos elaboraram um texto onde começam por se referir à “criança” e não ao feto ou ao zigoto. Também no livro de Baruch Brody, Abortion and the Sanatity of Human Life, MIT Press, 1975, ele afirma que enquanto não conseguir distinguir feto de criança rejeitará a palavra feticídio usando indistintamente a palavra homicídio.

(João Araújo, Aborto Sim ou Não?)


Um Código Genético Único e Inalterável


Embora o zigoto provenha da fusão dos gâmetas, existe uma diferença essencial entre eles. O espermatozoide e o óvulo contribuem cada um com 23 cromossomas para a constituição do zigoto. O zigoto, porém, não é biologicamente o resultado de uma simples soma do espermatozoide e do óvulo, mas um ser estritamente diferente e original desde o primeiro instante.

O espermatozoide, com efeito, contém em parte o código genético do pai, o mesmo código que as restantes células do corpo paterno possuem. Neste sentido, é uma célula do pai ou uma parte do seu corpo. Além disso, é uma célula adulta, isto é, alcançou o máximo desenvolvimento requerido para a função que lhe é própria: a fecundação. De sorte que, caso não fecunde um óvulo, não lhe resta outra fase senão a morte. Por sua vez, o óvulo contém em parte o código genético da mãe e é outra célula adulta que também morre se não for fecundada.

Quando, no entanto, os dois gâmetas se unem e surge o zigoto, este contém em si um código genético perfeitamente original e diferente do código do espermatozoide e daquele do óvulo. O zigoto não é uma célula do pai nem uma célula da mãe. Possuí uma mensagem genética própria e irrepetível. Nunca existiu nem existirá na história um ser idêntico a ele. Este código inédito permanecerá já invariável e, de acordo com os condicionamentos impostos pelo meio, desenvolver-se-á autonomamente até à velhice e à morte, sem que nada lhe seja acrescentado de essencial, salvo a nutrição, o oxigênio e o tempo.

O zigoto não é, pois, uma parte do pai ou da mãe, e, longe de ser uma célula adulta, é exatamente o contrário: é um embrião que contém em si próprio todo um futuro desenvolvimento vital. As mesmas semelhanças e as mesmas diferenças essenciais que existem entre os pais e os filhos existem entre os gâmetas e o zigoto. Ninguém que esteja em seu são juízo suspeita de que, apesar da relação de paternidade ou de maternidade, e das semelhanças físicas e temperamentais, o filho não seja um ser distinto e autônomo, mas uma parte do pai ou da mãe. A moderna biologia nada mais faz do que confirmar esta experiência elementar.

Fonte: ABORTO E SOCIEDADE PERMISSIVA, de Pedro-Juan Viladrich, Quadrante, Sociedade de Publicações Culturais.


Bases Biológicas do Início da Vida Humana


Entrevista com a doutora Anna Giuli, bióloga molecular.

Por que se fala tanto da “questão” da vida humana pré-natal?

A vida humana pré-natal continua a ser um tema crucial para nossa sociedade, chamada a confrontar-se com os desafios de levar a cabo precoces intervenções terapêuticas e diagnósticos sobre o embrião e sobre o feto. A produção de embriões “in vitro” para a superação da esterilidade ou de riscos genéticos, a utilização de embriões para obter células estaminais para seu emprego no âmbito da medicina regenerativa, a pesquisa com embriões com fins de investigação ou sua clonagem, são alguns dos mais discutidos filões biomédicos, que têm como protagonista o individuo humano nas fases precoces de seu desenvolvimento. Quem é o embrião humano? É um sujeito, um objecto, um simples amontoado de células? Que valor tem a vida humana precoce? É lícito manipulá-la ao menos nos primeiros estágios de seu desenvolvimento? Que grau de tutela outorgar-lhe? Estes são os interrogantes que vão no centro do atual debate sobre o início da vida humana; poder proporcionar uma resposta amplamente compartilhada é fundamental pelas relevantes implicações não só no campo de saúde, mas para toda a sociedade e para o próprio futuro do homem.

Estas questões não só interpelam o biólogo, o especialista em bioética ou o legislador, mas cada um de nós, simples cidadãos, chamados a expressar-nos em matérias delicadas e complexas, como sucedeu no ano passado com o tema da fecundação artificial (na Itália. NR) ou como está ocorrendo nestes meses, com a pesquisa sobre a pílula abortiva RU486. O amplo debate, frequentemente com tons confusos, suscitado por estes temas, revelou a necessidade de uma informação cada vez mais clara e objectiva para enfrentar com conhecimento e consciência crítica os novos desafios éticos e sociais do progresso biotecnológico.

É, por isso, importante esclarecer antes de tudo a natureza biológica do ser humano e das suas origens, graças à contribuição dos numerosos estudos embriológicos, genéticos e biomoleculares que nos últimos anos permitiram descobrir os mecanismos mais íntimos do desenvolvimento inicial do individuo humano.

O que se entende por início da vida humana “individual”?

Algumas correntes de pensamento afirmam que a existência de um indivíduo humano “verdadeiro” ao qual pode-se dar “nome e apelido” começa num momento sucessivo em relação à concepção, e que até esse momento aquela “vida humana” não pode ter a dignidade, ou ainda o valor (e portanto a tutela) de qualquer outra pessoa.

Na biologia cada “indivíduo” identifica-se no organismo cuja existência coincide com seu “ciclo vital”, isto é, “a extensão no espaço e no tempo da vida de uma individualidade biológica”. A origem de um organismo biológico coincide, portanto, com o início de seu ciclo vital: é o início de um ciclo vital independente o que define o início de uma nova existência biológica individual que se desenvolverá no tempo atravessando várias etapas até chegar à maturidade e depois à conclusão de seu arco vital com a morte.

Sobre a base dos dados científicos disponíveis atualmente, é portanto importante analisar a possibilidade de identificar o evento “crítico” que marca o início de um novo ciclo vital humano.

Quando começa a vida?

- Dr.ª. Giuli: Um novo indivíduo biológico humano, original em relação a todos os exemplares de sua espécie, inicia o seu ciclo vital no momento da penetração do espermatozoide no ovócito. A fusão dos gâmetas masculino e feminino (chamada também “singamia”) marca o primeiro “passo generacional”, isto é, a transição entre os gâmetas – que podem considerar-se “uma ponte” entre as gerações – e o organismo humano não-formado. A fusão dos gâmetas representa um evento “crítico” de “descontinuidade” porque marca a constituição de uma nova individualidade biológica, qualitativamente diferente dos gâmetas que a geraram.

Em particular, a entrada do espermatozoide no ovócito provoca uma série de acontecimentos, estimáveis do ponto de vista bioquímico, molecular e morfológico, que induzem a “ativação” de uma nova célula – o embrião unicelular – e estimulam a primeira cascata de sinais do desenvolvimento embrionário; entre as muitas atividades desta nova célula, as mais importantes são a organização e a ativação do novo genoma, que ocorre graças à atividade coordenada dos elementos moleculares de origem materna e paterna (fase pronuclear).

O novo genoma está, portanto, já ativo no estágio pronuclear assumindo de imediato o controle do desenvolvimento embrionário; já no estágio de uma só célula (zigoto) se começa a estabelecer como sucederá o desenvolvimento sucessivo do embrião, e a primeira divisão do zigoto influi no destino de cada uma das duas células que se formarão; uma célula dará origem à região da massa celular interna ou embrioblasto (de onde derivarão os tecidos do embrião) e a outra ao trofoblasto (de onde derivarão os tecidos envolvidos na nutrição do embrião e do feto). A primeira divisão do zigoto influi, portanto, no destino de cada célula e, em definitivo, de todos os tecidos do corpo. Estas evidências declaram que não é possível dar espaço à ideia de que os embriões precoces sejam um “monte indiferenciado de células”.

Alguns fenômenos, como a possibilidade de formar os gémeos monozigóticos durante as primeiras fases do desenvolvimento embrionário, não anulam a evidência biológica da “individualidade” estabelecida na fusão dos gâmetas; em todo o caso trazem à luz a capacidade de compensação de eventuais danos ou erros no programa de evolução embrionária. O embrião humano precoce é um sistema harmônico no qual todas as partes potencialmente independentes funcionam juntas para formar um único organismo.

Em conclusão, dos dados da biologia até hoje disponíveis evidencia-se que o zigoto ou embrião unicelular se constitui como uma nova individualidade biológica já na fusão dos dois gâmetas, momento de ruptura entre a existência dos gâmetas e a formação do novo individuo humano. Desde a formação do zigoto se assiste a um constante e gradual desenvolvimento do novo organismo humano que evoluirá no espaço e no tempo seguindo uma orientação precisa sob o controle do novo genoma já ativo no estágio pronuclear (fase precoce do embrião unicelular).

O progresso biotecnológico influiu tanto no nosso modo de pensar e nos nossos estilos de vida que frequentemente se ouve falar de “terceira cultura”. De que se trata?

Alguns sociólogos definiram a cultura contemporânea como a “terceira cultura”, na qual tem predomínio a tecnologia. Entre os princípios desta nova cultura fundamental está a ideia de que não há nada fora do universo tangível, que o homem é um organismo não qualitativamente diferente de qualquer outro animal – e, portanto, reduzido só à sua realidade corpórea.

No campo científico afirma-se que a ciência e a tecnologia são nossas: já que a essência da ciência é a objectividade, todo obstáculo ao progresso científico é como uma limitação a tal objectividade; como consequência não devem pôr-se restrições à atividade científica e ao progresso tecnológico. Fala-se de “ciência do possível”, que considera justo e bom tudo o que é tecnicamente possível e que não aceita mensagens de orientação ou de estímulo por parte de sistemas de pensamento de ordem antropológica ou ética.

Se o homem e toda a realidade biológica são fruto de uma evolução cega, não existem critérios segundo os quais conformar a atuação, e toda a realidade natural é só matéria à disposição do homem. Consequentemente, tudo o que é possível se converte em lícito e todo o limite é um obstáculo que há que se superar. Daí resulta um grande impulso a não orientar-se por princípios éticos, em outras palavras, pelo sentido de responsabilidade. Uma atitude que pode ser muito perigosa.

Ao crescimento das possibilidades de auto-manipulação do homem, deverá corresponder um igual desenvolvimento de nossa “força moral” para nos permitir proteger e tutelar a liberdade e dignidade própria e alheia.

Por que se diz que o embrião humano tem dignidade própria?

- Dr.ª. Giuli: Na nossa cultura está a mudar o sentir comum em respeito ao ser humano, sobretudo nos momentos mais emblemáticos e vulneráveis de sua existência, induzindo uma tendência para um gradual “desalojamento” do valor da vida que cada vez vai arraigando mais no tecido social e legislativo da cultura ocidental, historicamente berço dos direitos humanos.

Segundo esta tradição cultural, como se afirma – entre outros lugares – no Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, o ser humano é o valor do qual se originam e para o qual se dirigem todos os direitos fundamentais; qualquer outro critério de ordem cultural, política, geográfica ou ideológica resultaria redutivo e arbitrário. A pertença à espécie humana é o elemento suficiente para atribuir a cada um a sua dignidade.

A tradição cultural dos direitos humanos teve, também, uma profunda incidência na reflexão biomédica contribuindo à afirmação mais vigorosa dos direitos do homem também na medicina, através da elaboração dos códigos de deontologia médico-profissionais e do desenvolvimento dos direitos do doente para lhe assegurar a autonomia e evitar abusos indevidos. É, no entanto, oportuno não desconhecer esta tradição e valorizar suas lógicas consequentes em relação ao tema do início da vida humana no âmbito biomédico.

O embrião humano precoce é um indivíduo em ato com a identidade própria da espécie humana à qual pertence, e consequentemente devem ser reconhecidos seus direitos de “sujeito humano” e a sua vida deve ser plenamente respeitada e protegida.

(Por: Doutora Anna Giuli, Bióloga molecular e professora de Bioética na Faculdade de Medicina da Universidade Católica do Sagrado Coração (Roma). A doutora Anna Giuli publicou um livro com o título “Início da vida humana individual. Bases biológicas e implicações bioéticas” (“Inizio della vita umana inviduale. Basi biologiche e implicazioni bioetiche”, Edizioni ARACNE). Estas palavras foram retiradas de uma entrevista que concedeu a Zenit).


Crianças, enfim


Não consigo deixar de me impressionar com a morte de uma criança, principalmente quando é provocada por um adulto.

E não consigo também, pela formação científica (biológica e médica) que tenho, deixar de olhar para o momento da fecundação de um óvulo por um espermatozoide como um momento ímpar, o do nascimento de uma criança.

Sei que quer o óvulo quer o espermatozoide são células maduras, condenadas à morte. E que no momento em que se unem há uma explosão biológica. Os vinte e três cromossomas de cada um deles unem-se e forma-se um novo núcleo, com quarenta e seis cromossomas, com um genoma completamente novo e que nunca se repetirá. Um genoma de um ser humano.

Sei que aquela célula – o zigoto, se começa a dividir ativamente, em duas, quatro, oito, dezasseis… e rapidamente aquela “massa” de células ” (uma criança) começa a produzir hormonas que vão interferir com o organismo da mãe. Fazem proliferar a camada interna do útero, preparando tudo para a sua nidação. E, uma vez um pouco diferenciadas em blastócito nidam no útero materno, começando a alimentar-se dele.

Sei que esse aglomerando de células se começa a diferenciar rapidamente, e que os órgãos vitais de um organismo humano vão surgindo a uma velocidade surpreendente, de tal modo que num embrião (uma criança) de dez semanas estão praticamente todos os órgãos formados, apesar de esse embrião medir uns escassos centímetros.

E que depois tudo se processará numa fase predominantemente de crescimento até que o feto (a criança) atinja as trinta e cinco semanas e nasça uma criança.

Não consigo deixar de olhar para um embrião de poucos dias e ver nele uma pessoa humana. E não é por Fé, por crença religiosa. Não preciso de fé para ver uma criança num embrião. Está lá, a evidência científica diz-mo. Tem de estar lá porque lá está tudo o que constitui uma pessoa humana.

A minha mente de médico recusa fechar os olhos à evidência. E, por isso, e porque para os médicos a vida humana é sagrada, recuso-me a aceitar o aborto provocado, porque para um médico a morte nunca é solução. Tem de haver outra saída. Há sempre outra saída. É preciso imaginação para a descobrir, coragem e inteligência para a pôr em prática. Mas a morte, nunca! O aborto provocado, nunca!

Vítor Costa lima, médico.


Que é o Feto Humano?


a) Que é um feto? Que realidade é? É um objecto ou um sujeito? É uma coisa ou é alguém? É portador de direitos? É propriedade de alguém? Quem decide o seu futuro?

b) O feto não pode ser uma coisa porque a sua natureza material e biológica o coloca entre os seres pertencentes à espécie humana. Ora, se não é uma coisa, no plano jurídico, o feto só pode ser um sujeito. (cf. Conselho Nacional de Bioética de Itália e C. Casini).

c) As teorias funcionalistas afirmam que o valor da vida humana em geral, e em especial o da vida humana pré-natal, depende da capacidade das suas funções. Deste modo, a vida pré-natal não teria valor por não poder realizar nenhuma função social. O funcionalismo é legítimo quando se tem de distinguir entre diferentes modalidades de ação, mas não se pode aplicar a questões que dizem respeito ao ser e não ao agir. Por isso tem de ser refutado.

Ora é impossível negar que o feto seja um de nós:

1. Porque cada um de nós necessariamente foi um feto;

2. porque do ponto de vista genético não há nenhum salto ou ruptura entre o que éramos imediatamente a seguir à concepção, quando já estava totalmente determinado o nosso genoma, e aquilo que agora somos geneticamente em absoluta continuidade de desenvolvimento com aquela realidade única e irrepetível que é cada indivíduo geneticamente determinado. Reduzir o feto à categoria de coisa é pura e simplesmente negar a verdade da realidade. O feto é um de nós e merece portanto o mesmo respeito que merece qualquer sujeito humano. (cf. Francesco D’Agostino)

d) Acresce que a tese para a qual a pessoa é um conjunto de funções atualmente em exercício não pode ser aceite porque introduz, sub-repticiamente, a legitimidade de um discriminação entre os seres humanos na base da possessão de certas capacidades ou funções. Ora a simples possessão da natureza humana implica para todo o indivíduo humano o facto de ser pessoa. A pessoa é definida pela natureza ontológica, pelo que um indivíduo concreto pode ser de natureza racional mesmo quando não manifesta todas as características da racionalidade. (cf. Conselho Nacional de Bioética de Itália).

3. Consequências para o Direito:

Hoje o princípio da não discriminação deve ser reconhecido no âmbito das diversas idades e condições de uma mesma existência humana, particularmente no que diz respeito à fase da vida ainda não nascida. Trata-se de reconhecer, também no âmbito jurídico, que feto, recém-nascido, adolescente, jovem, adulto, idoso são nomes diversos que indicam um sujeito idêntico, o mesmo ser pessoal.

É preciso, então, afirmar em linguagem jurídica que todos os homens são sempre iguais no seu misterioso valor e que não pode haver nenhum ser pertencente à espécie biológica humana que não seja por isso mesmo um homem e portanto um sujeito, uma entidade subtraída ao reino das coisas. (cf. C. Casini)

(Nuno Serras Pereira)


Manipular Palavras para Manipular Vidas


Indefinição semântica pretende ocultar a realidade biológica.

O ato de manipular, e sobretudo o destruir, um embrião humano antes da implantação no útero – até ao 14º dia aproximadamente – tem uma carga ética altamente negativa, pois na realidade não é outra coisa senão o manipular ou destruir uma vida humana nas suas primeiras etapas. Por isso, os que utilizam as técnicas de reprodução assistida ou a clonagem estão a fazer um grande esforço para retirar ao embrião, nesses primeiros dias da sua vida, todo o valor ontológico que tem uma vida humana, para assim atuar sobre ele sem nenhuma responsabilidade ética.

E nessa tarefa uma das principais armas é a indefinição semântica.

O primeiro grande passo semântico deu-se em 1987, quando a Comissão Warnock (Inglaterra) aplicou o termo “pré-embrião” para designar o embrião humano na sua etapa pré-implantatória. Este é um termo absolutamente convencional, pois, no que se refere à sua realidade biológica, não existe nenhuma diferença entre um embrião de 14 dias e outro de 16, dois dias depois da sua implantação. Recentemente, tendo em conta as recomendações da Comissão Donaldson ao governo britânico, para que permitisse a clonagem terapêutica, dá-se mais um passo para disfarçar semanticamente a natureza do embrião humano. Assim, o terceiro ponto dessa comunicação afirma: “As pessoas cujos óvulos ou espermatozoides estejam implicados na criação do embrião destinado a experimentação deverão dar o seu consentimento por escrito, autorizando a que se utilizem os hemocitoblastos para investigação”.

Como se comprova, o embrião ainda não implantado é aqui denominado de hemocitoblasto, que na realidade não é mais nem menos do que o nome atribuído a um embrião nas suas etapas iniciais, quando tem aproximadamente 12 células; mas, sem dúvida, para o grande público não é o mesmo atuar sobre um embrião humano ou sobre um hemocitoblasto. Sobre aquele existem graves problemas éticos para atuar; sobre este não parece que existam barreiras éticas definidas, pela simples razão de que não se sabe bem o que significa esse nome e, sobretudo, porque não se relaciona com um ser humano vivo.

É este portanto, outra nova tentativa semântica de obscurecer a natureza biológica do embrião humano. De todas as formas, não é este o único campo onde, pela indefinição semântica se trata de ocultar a realidade biológica de um ato médico concreto. Assim, ao aborto foi-lhe atribuído o nome de “Interrupção Voluntária da Gravidez”; à pílula abortiva RU-486, “reguladora da menstruação”, etc. É dizer que existe uma intencionada tendência de disfarçar aquelas palavras que em si mesmas promovem o debate ético mediante outras que, obscurecendo o verdadeiro significado da natureza do ato que se realiza, mitiguem o juízo ético. Assim, há que estar precavidos, pois atentar contra um embrião de 12 dias é o mesmo que o fazer sobre um pré-embrião ou um hemocitoblasto, e em todos os casos não é outra coisa que atentar contra uma vida humana, e isto todos sabemos que valoração ética merece.

[Zenit]


Aborto: O Engano das Palavras

Abortion is advocated only by persons who have themselves been born.”(Ronald Reagan)

As palavras utilizadas no debate em torno da prática do aborto determinam em grande parte o impacto dos argumentos. Como este é um assunto delicado e que pode ferir susceptibilidades, grande parte das vezes são utilizados termos com uma carga menos negativa e, por isso, mais facilmente aceites. Muitos termos, apesar de errados ou inadequados, são utilizados constantemente por evitarem o impacto que um termo mais adequado ou que uma simples descrição podem ter.

Apresentam-se aqui alguns termos ou palavras utilizadas, o seu significado, alguns sinônimos e, em alguns casos, algumas alternativas interessantes. Por vezes é tudo uma questão de semântica…

Interrupção voluntária da gravidez – Talvez a forma mais inofensiva de alguém se referir ao aborto induzido. Mas a utilização das palavras neste caso não é a mais adequada. Interrupção pode significar, entre outras coisas, uma paragem temporária, após a qual se retoma ou recomeça o que se estava a fazer. Esta palavra deveria então ser substituída por uma cujo significado apenas poderia ser “terminal”. Esta afirmação frequente esconde ainda a trágica realidade de muitas mulheres que se submetem a um aborto legal contra a sua própria vontade. Em muitos países onde o aborto está legalizado, esta prática corresponde muitas vezes a uma “interrupção involuntária da gravidez”, onde a violência é o método frequente de coação para tornar a submissão a um aborto em algo de “voluntário”. [ver Escolha]

Raspagem – Muitas vezes o procedimento do aborto é descrito como raspagem (em alusão a alguns dos procedimentos utilizados). Mas este termo apenas descreve parte do procedimento. De facto, é realizada uma raspagem, mas só depois de feto e placenta serem aspirados ou cortados e despedaçados por um instrumento cortante. [ver Métodos]

Desmancho – Palavra utilizada sobretudo em meios rurais. Apesar de ser habitual entre pessoas com um nível de educação escolar relativamente baixo, é um termo mais próximo da realidade do que a maioria dos termos utilizados por pessoas com uma formação superior. Descreve de uma forma correta uma grande parte dos procedimentos de aborto, nos quais o feto é desmanchado, isto é, desmembrado para depois ser removido do útero materno.

Clínicas de aborto – Forma mais inofensiva de rotular os locais onde os abortos são executados. Se o aborto for legal, o termo é utilizado frequentemente. Quando o aborto é ilegal, este termo é geralmente substituído pela designação mais assustadora de “parteiras”.

Gravidez obrigatória ou não desejada – Gravidez de uma mulher que deseja abortar; este termo tem como objectivo associar a gravidez a algo imposto, quase como se outrem tivesse obrigado a mulher a engravidar em primeiro lugar, ou então, como se a gravidez fosse uma cilada do destino.

Argumentar o direito ao aborto com base numa gravidez não desejada é estar no fundo a argumentar a favor do direito ao acesso ao aborto em qualquer estádio da gravidez. Como facilmente se poderá perceber, o sentimento de gravidez não desejada pode despertar em qualquer altura da gravidez e não apenas nas primeiras semanas. Uma vez que ao longo do período de gravidez as condições podem mudar (estado civil, estado financeiro, estado mental), então a vontade de levar uma gravidez até ao fim pode também mudar como consequência. Por esse motivo é possível em alguns países realizar um aborto induzido até aos 9 meses de gravidez.

Produtos da gravidez – Feto ou criança. Eufemismo utilizado para descaracterizar ou desumanizar o embrião, de modo a desassociar qualquer imagem do mesmo a um ser humano.

Mulher grávida – Um ótimo substituto para a palavra “mãe”.

Útero – No contexto do aborto, é mencionado como sinônimo de “barriga da mãe” ou “ventre materno”, mas sem a conotação de segurança e carinho que estes termos possuem.

Direito das mulheres ao aborto – Uma forma politicamente correta de dizer “direito das mães ao aborto”. Frase muito utilizada por ter o poder de mobilizar o público feminino para a discussão sobre a legalidade do aborto, transmitindo-lhes a ideia de serem alvo de repressão quando tal direito lhes é negado.

Discriminação – No contexto do aborto, diz respeito ao facto de não ser dado à mulher o direito de poder decidir abortar. Também utilizado em alusão ao facto da penalização do aborto prejudicar as mulheres mais desfavorecidas que não têm dinheiro para recorrer a clínicas no estrangeiro. Conceito não aplicável à discriminação que o feto é votado, por não lhe ser dado o direito à existência.

Impor a moralidade – Acusação feita muitas vezes pelos defensores do aborto àqueles que se opõem à prática. Frequentemente se comete o erro de associar os oponentes do aborto com religiosos fanáticos. A palavra “moralidade” é aqui utilizada com um sentido negativo, como se fosse um defeito ou um preconceito retrógrado. Mas, tanto quanto se pode determinar, a moralidade de alguém é sempre imposta. Se o aborto é realizado, então é a moralidade da mãe a ser imposta ao filho que transporta dentro de si.

Também se tem criticado as decisões de governos como tentativas de impor ao povo a moralidade de determinados membros do poder político. O exemplo do impedimento da entrada do “barco do aborto” nas águas territoriais de alguns países tem sido apontado como um exemplo desta imposição de moralidade. (Claro que neste caso específico é sempre sonegado o facto do próprio governo Holandês, país de onde é originário o barco, ter imposto restrições às práticas a bordo desta embarcação [ler mais - BBC News]).

Os filhos têm de ser desejados – Meio inócuo de dizer que se não forem desejados são abortados, isto é, eliminados.

Direito a controlar o seu próprio corpo – Do modo como é utilizada esta expressão, só pode significar: direito da mulher a fazer o que quer do seu corpo, a qualquer altura, e ainda receber aprovação pública por tal feito. Convém realçar que este direito apenas entra em vigor para as mulheres a partir do momento do nascimento. O feto, mesmo quando o seu gênero já é evidente através do aparelho genital formado, ainda não tem este direito, mesmo sendo “mulher”.

Eu também já fiz aborto! – Ato de aprovar uma ação de outrem com base na sua própria conduta passada. Para a pessoa que utiliza este “argumento”, o aborto deve ser encarado como uma prática normal porque ela também já o fez ou aprovou no passado. E se ela o fez, também outras o podem fazer. Se ela o fez, então é correto fazê-lo. Também pode expressar uma procura inconsciente de ajuda ou uma tentativa de diluir o sentimento de culpa.

Aqui mando eu! – Frase utilizada por pessoas que não têm a mínima noção das suas funções biológicas. Demonstra uma disposição, consciente ou inconsciente, para um estado ilusório de falso controlo. Se ali (entenda-se no útero ou no próprio corpo) manda ela, porque motivo haveria de ter uma gravidez indesejada?

Direito humano básico – Com frequência se ouve defender o direito ao aborto como um dos mais básicos direitos humanos. Convém, no entanto, salientar a disparidade entre aquilo que pode ser considerado um direito constitucional, com poucas ou nenhumas restrições (como por exemplo o direito à liberdade de expressão ou acesso a informação), e outros direitos com importantes restrições que, dada a sua natureza, não conferem o direito a um acesso universal. Como exemplo deste segundo direito pode-se avançar o casamento, que é um direito que não está acessível a todos (por exemplo crianças ou pessoas já casadas).

A apropriação do argumento do direito humano básico em favor do aborto é, muitas vezes, uma tentativa de impedir a utilização do mesmo argumento contra o aborto. Porque o direito à vida é, certamente, um direito humano básico que é negado ao feto.

Crença moral pessoal – É frequentemente assumido que qualquer pessoa que se opõe à prática do aborto (parcial ou totalmente) é movida de crenças pessoais, religiosas geralmente, ou por qualquer outro tipo de crenças morais ou princípios éticos. Este pressuposto, frequentemente aflorado nos debates, pretende transmitir a ideia que só o preconceito e o dogmatismo estão na base de uma posição contra o aborto. Em parte pode ser verdade, mas este argumento deixa de fora todas as pessoas (em especial as mulheres) que, independentemente das suas crenças, consideram a prática do aborto grosseira, violenta e desumana.

Feto – Palavra utilizada frequentemente; termo correto apesar de abranger todos os mamíferos. “Feto humano”, apesar de ser ainda mais preciso, não é utilizado uma vez que transmite uma imagem do feto como um ser humano. Feto é um termo latim que significa “pequena criança”, “pequenino” ou “descendência”. Por este motivo, ao dizer-se que o aborto põe fim à existência do feto, está de facto a dizer-se “pôr termo à existência da pequena criança.” O termo “bebé em desenvolvimento” é também cientificamente e profissionalmente correto. A palavra bebé é utilizada frequentemente por ginecologistas e obstetras quando estes se referem ao embrião ou feto em desenvolvimento dentro da barriga da mãe. Assim, se o objectivo é dar à luz, utiliza-se o termo “bebé”. Se é abortar, então “feto” é mais conveniente.

Este termo tem ainda uma vantagem para os defensores da prática do aborto. É inconscientemente associado ao gênero masculino (o feto). Assim, a mulher que contempla o aborto como opção, encara a negação desta escolha como uma invasão dos direitos da mulher. O feto é associado a um homem que de certa forma frustra os planos da mulher ou a obriga a fazer algo contra a sua própria vontade.

Óvulo fertilizado – Termo que refere ao embrião, mas com a vantagem de dar a ideia de não ser muito diferente de um óvulo expelido durante o período menstrual. E neste sentido, expelir o feto através de um aborto é comparado ao fluxo menstrual expelido do corpo.

Vida potencial – Alusão ao embrião sem, no entanto, lhe conceder a identidade de uma pessoa. Porque não uma vida com um vasto potencial? O que na verdade esta afirmação pretende dizer é “humano potencial”.

Qualidade de vida – É frequentemente argumentado que as crianças que nascem têm direito a ter qualidade de vida. Se tal não é possível, não devem ser trazidas para este mundo que, como todos sabemos, é cruel. O conceito é interessante, mas requer juízes que determinem o que é qualidade de vida e a possam quantificar. Este conceito amorfo levanta mais questões do que responde. Porque não “igualdade de vida”? E quem garante que não viver é melhor do que viver fora dos nossos conceitos de “qualidade de vida”? E que norma de qualidade de vida utilizar?

Vida com significado – Ao argumento da qualidade de vida é muitas vezes associado o conceito de uma vida com significado. Todo o ser humano deve ter direito a uma vida com significado. Quanto a isso não parece haver qualquer dúvida, mesmo que o conceito seja de certa forma vago. Mas com significado para quem? Quem determina se um feto vai ou não ter uma vida com significado? Infelizmente muitos argumentos utilizados sugerem que a vida da mulher perde significado se levar a gravidez até ao fim, mesmo quando não desejada.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


É uma Hipocrisia Chamar ao Aborto

de Interrupção Voluntária da Gravidez

O filósofo Julián Marías, discípulo de Ortega y Gasset, e autor de mais de meia centena de livros, não vacila em condenar energicamente o aborto, que considera “o máximo desprezo pela vida humana em toda a história conhecida”.

60 milhões de abortos por ano no mundo”,
que reflexão lhe sugere este dado?

Que se estendeu, de um modo aterrador, o máximo desprezo pela vida humana em toda a historia conhecida, e, ao mesmo tempo, a negação da condição da pessoa.

E o que é que acha de que lhe chamem “interrupção voluntária da gravidez “?

Parece-me uma expressão de refinada hipocrisia. Os partidários da pena de morte têm as suas dificuldades resolvidas. Para que falar de tal pena, de tal morte? A forca ou o garrote podem chamar-se “interrupção da respiração” (e com um par de minutos basta); já não há problema. Quando se provoca o aborto ou se enforca alguém, não se interrompe a gravidez ou a respiração; em ambos os casos mata-se alguém. E, evidentemente, é mais uma hipocrisia considerar que existem diferenças segundo a etapa do caminho em que se encontre a criança que vem, a que distância de semanas ou meses dessa etapa da vida que se chama nascimento vai ser surpreendido pela morte.

O sr. Professor não põe o problema a partir da fé ou a partir da ciência.
Que ponto de vista falta?

Um que é elementar, ligado à simples condição humana, acessível a qualquer pessoa, independentemente de conhecimentos científicos ou teológicos, que poucos possuem. Esta visão não pode ser outra que a antropologia, fundada na simples realidade do homem tal como se vê, se vive, se compreende a si mesmo. Há, pois, que tentar regressar ao mais elementar, que por o ser não tem pressupostos de nenhuma ciência ou doutrina, que apela unicamente à evidência e não pede mais do que uma coisa: abrir os olhos e não voltar as costas à realidade.

As feministas dizem que o corpo é seu…

Mas é falso. Quando se diz que o feto é “parte” do corpo da mãe, diz-se uma insigne falsidade, porque não é parte: está “alojado” nela, melhor ainda, implantado nela (nela, e não simplesmente no seu corpo). Uma mulher dirá “Estou grávida”, nunca dirá “O meu corpo está grávido”.

Que é a criança ainda não nascida?

Uma realidade viva, que chegará, se não a pararmos, se não a matarmos no seu caminho.

Alguns afirmam ser lícito o aborto
quando se pensa que provavelmente o ser que vai nascer seria anormal,
física ou psiquicamente.

Mas afirmar isso implica que quem é anormal não deve viver, já que essa condição, em quem é anormal, não só é provável, mas é certa. E haveria que estender a mesma norma a quem chega a ser anormal por acidente, doença ou velhice. Se se tem essa convicção, há que mantê-la com todas as suas consequências.

Há quem não se atreva a ferir a criança senão quando ela está oculta, pensar-se-ia que protegida, no seio materno; o que acrescenta gravidade ao facto. Numa época em que quando se encontra um terrorista com uma metralhadora na mão, ainda fumegante, junto ao cadáver de um homem crivado de balas, se diz que é “um presumível assassino”, a simples probabilidade de uma anormalidade é considerada suficiente para decretar a morte de quem está exposto ao risco de ser mais ou menos anormal.

Fonte: La Razón, España, 26-11-2003.

Tradução:MM.


A mulher Objecto e o Menino Tumor


A espinhosa questão do aborto voluntário pode colocar-se de maneiras muito diversas. Entre os que consideram a inconveniência ou ilicitude do aborto, o problema mais frequente é o religioso. Mas costuma-se responder que não se pode impor uma moral “particular”.

Há outra posição que pretende ter validade universal, que é a científica. As razões biológicas, concretamente genéticas, consideram-se demonstráveis, concludentes para qualquer pessoa. Mas as suas provas não são acessíveis à imensa maioria dos homens e mulheres, que as admitem “por fé”; entende-se: por fé na ciência. Creio que faz falta uma abordagem elementar, acessível a qualquer pessoa, independentemente de conhecimentos científicos ou teológicos, que poucos possuem, de uma questão tão importante, que afeta milhões de pessoas e a possibilidade de vida de milhões de crianças, que nascerão ou deixarão de nascer.

Esta visão há de fundamentar-se na distinção entre “coisa” e “pessoa”, tal como aparece no uso da língua. Todas as pessoas distinguem, sem a menor possibilidade de confusão, entre “quê” e “quem”, “algo” e “alguém”, “nada” e “ninguém”. Se se ouvir um grande ruído estranho, alarmar-me-ei e perguntarei: “que se passa? ou “o que é isso? Mas se ouço uma pedinte à porta, nunca perguntarei “que é?”, mas “quem é?”.

Perguntar-se-á que tem isto a ver com o aborto. O que aqui me interessa é ver em que consiste, qual é a sua realidade. O nascimento de uma criança é uma radical “inovação de realidade”: a aparição de uma realidade “nova”. Dir-se-á que deriva ou vem de seus pais. Sim, de seus pais, dos seus avós e de todos os seus antepassados; e também do oxigênio, do nitrogênio, do hidrogênio, do carbono, do cálcio, do fósforo e de todos os demais elementos que intervêm na composição do seu organismo. O corpo, o psíquico, até o carácter, vêm daí e não é rigorosamente novo.

Diremos que “o que” o filho é deriva de tudo isso que enumerei, é “redutível” a isso. É uma coisa, certamente animada e não inerte, em muitos sentidos “única”, mas ao fim e ao cabo uma coisa. A sua destruição é irreparável, como quando se parte uma peça que é exemplar único. Mas ainda não é isso o importante.

O que” é o filho pode reduzir-se a seus pais e ao mundo; mas “o filho” não é “o que”, é. É “alguém”. Não um “quê”, mas um “quem”, a quem se diz “tu”, que responderá “eu”. E é “irredutível a tudo e a todos”, desde os elementos químicos até aos seus pais, e ao próprio Deus, se pensamos nele. Ao dizer “eu” enfrenta-se com todo o universo. É um “terceiro” absolutamente novo, que se acrescenta ao pai e à mãe.

Quando se diz que o feto é “parte” do corpo da mãe, diz-se uma insigne falsidade, porque não é parte: está “alojado” nela, implantado nela (nela e não meramente no seu corpo). Uma mulher dirá: “estou grávida” e nunca “o meu corpo está grávido”. É um assunto pessoal por parte da mãe. Uma mulher diz: “vou ter um filho”; não diz: “tenho um tumor”.

O menino ainda não nascido é uma realidade “vindoura”, que chegará se não o pararmos, se não o matarmos no caminho. E se se diz que o feto não é um “quem”, porque não tem uma vida pessoal, haveria que dizer o mesmo do menino já nascido durante muitos meses (e do homem durante o sono profundo, a anestesia, a arteriosclerose avançada, a extrema senilidade, o coma).

Às vezes usa-se uma expressão de refinada hipocrisia para denominar o aborto provocado: diz-se que é a “interrupção da gravidez”. Os partidários da pena de morte têm as suas dificuldades resolvidas. A forca ou o garrote podem chamar-se “interrupção da respiração”, e com uns minutos basta. Quando se provoca o aborto ou se estrangula, mata-se alguém. E é uma hipocrisia mais considerar que há diferença consoante o estado de gestação em que se encontre o menino que vem, a que distância de semanas ou meses do nascimento vai ser surpreendido pela morte.

Com frequência se afirma a licitude do aborto quando se julga que provavelmente o que vai nascer (o que ia nascer) seria anormal, física ou psiquicamente. Mas isto implica que o que é anormal “não deve viver”, já que essa condição não é provável, mas segura. E haveria que estender a mesma norma ao que chega a ser anormal por acidente, doença ou velhice. E se se tem essa convicção, há que mantê-la com todas as suas consequências; outra coisa é atuar como Hamlet no drama de Shakespeare, que fere Polônio com a sua espada, quando este está oculto detrás da cortina. Há os que não se atrevem a ferir, salvo quando a vítima está oculta – pensava-se que protegido – no seio materno.

E é curioso como se prescinde totalmente do pai.

Atribui-se a decisão exclusivamente à mãe (mais adequado seria falar da “fêmea grávida”, sem que o pai tenha nada que dizer sobre se deve matar ou não o seu filho. Isto, obviamente, não se diz, passa-se por alto. Fala-se da “mulher objecto” e agora pensa-se no “menino tumor”, que se pode extirpar como um abcesso repugnante. Trata-se de destruir o carácter pessoal do humano.

Por isso se fala do direito a dispor do próprio corpo. Mas, para além de que o menino não é parte do corpo da sua mãe, mas “alguém corporal implantado na realidade corporal da sua mãe”, esse suposto direito não existe. A ninguém é permitida a mutilação; os outros e o próprio poder público impedem-no. Se eu me quiser atirar duma janela, vêm a polícia e os bombeiros e impedem-me pela força de o fazer. (…)

Não se tratará disto precisamente? Não estará em curso um processo de “despersonalização”, isto é, de “desumanização” do homem e da mulher, as duas formas irredutíveis, mutuamente necessárias, em que se realiza a vida humana?

Se as relações de maternidade e paternidade são abolidas, se a relação entre os pais fica reduzida a uma mera função biológica sem perdurar para além do ato de geração, sem nenhum significado pessoal entre as pessoas implicadas, que fica de humano em tudo isso? E se isto se impõe e generaliza, se a Humanidade viver de acordo com esses princípios, não terá comprometido, quem sabe até quando, essa mesma condição humana? (…)

Texto do filósofo JULIAN MARIAS, publicado no jornal espanhol ABC.


Estudos sobre as Consequências 

Psicológicas do Aborto: Visão Geral

Abortions will not let you forget.
You remember the children you got that you did not get…”
The Mother” (1945).
Gwendolyn Brooks, poetisa Norte-Americana.

Medo, ansiedade, dor e culpa são apenas alguns dos sentimentos que muitas mulheres que já se submeteram à violenta prática do aborto referem ter com frequência. Em muitos casos torna-se necessário recorrer a tratamento psiquiátrico para fazer face a estes sentimentos. E esta realidade está documentada em inúmeros artigos científicos.

Um estudo retrospectivo com 5 anos de duração realizado em duas províncias canadianas expôs uma utilização de serviços médicos e psiquiátricos significativamente mais elevados por parte de mulheres que já tinham sido sujeitas ao aborto. Ainda mais significativo foi o facto de 25% das mulheres sujeitas ao aborto frequentarem consultas de psiquiatria, comparadas com 3% das mulheres do grupo de controlo. (1)

Os investigadores que estudam as reações pós-aborto nas mulheres referem apenas um sentimento positivo: alívio. Este sentimento é compreensível uma vez que uma grande percentagem de mulheres referem estar sob grande pressão para realizar o aborto. Este sentimento momentâneo de alívio é frequentemente seguido por um período que os psiquiatras designam de “paralisia” ou “dormência” pós-aborto.

Um estudo realizado em 1980 em pacientes submetidas a aborto mostrou que, durante a primeira semana após o aborto, entre 40 a 60% das mulheres questionadas referiram reações negativas. Dentro de um prazo de 8 semanas após o aborto, 55% expressou culpa, 44% queixaram-se de distúrbios nervosas, 36% de distúrbios no sono, 31% tinha remorsos em relação à decisão de abortar e 11% tinha sido prescrita com medicamentos psicotrópicos pelo médico de família. (2)

Com especial risco de vir a sofrer problemas do foro psiquiátrico estão as adolescentes, mulheres separadas ou divorciadas, e mulheres com um historial de mais de um aborto. Como muitas mulheres acabam por utilizar a repressão como meio de lidar com o que sentem, a procura de ajuda psiquiátrica pode ocorrer muito depois do aborto ter sido realizado. Estes sentimentos reprimidos, no entanto, podem induzir doenças psicossomáticas ou psiquiátricas noutras áreas da sua vida.

Uma sondagem realizada a 260 mulheres (3), muitas das quais procuravam informação sobre aconselhamento pós-aborto e que já se tinham submetido a pelo menos um aborto enquanto adolescentes, mostrou que de uma forma geral estas mencionaram ter:
  • flashbacks” relativos ao momento do aborto;
  • crises de histeria;
  • sentimento de culpa;
  • medo do castigo de Deus;
  • agravamento de sentimentos negativos no aniversário da data do aborto ou quando exposta a propaganda a favor da liberdade de escolha (do aborto);
  • interesse excessivo em mulheres grávidas e em bebés;
  • visões ou sonhos com a criança abortada;
  • consciência de terem falado com a criança abortada antes do aborto.
Mulheres que tinham um historial de mais de um aborto induzido referiram com mais frequência:
  • um período de forte alívio após o aborto;
  • uma história de abuso sexual enquanto crianças;
  • ódio aos homens que as engravidaram;
  • ter terminado o relacionamento com o seu parceiro após o aborto;
  • dificuldade em manter e desenvolver relacionamentos pessoais;
  • ter adotado um comportamento promíscuo;
  • ter-se tornado auto-destrutiva;
  • começar ou aumentar a utilização de drogas depois do aborto;
  • sentimentos de ansiedade;
  • medo de Deus;
  • medo de outra gravidez;
  • medo de ter de recorrer a outro aborto;
  • efeitos emocionais tão severos impeditivos de qualquer atividade em casa, no trabalho ou de qualquer relacionamento pessoal;
  • ter experimentado um esgotamento nervoso algum tempo após o aborto induzido.
1. Report of the Committee on the Operation of the Abortion Law (1977). Ottawa: Supply and Services, pp.313-321.

2. Ashton, J.R. (1980). The Psychosocial Outcome of Induced-Abortion. British Journal of Obstetrics and Gynaecology 87(12):1115-1122.
  1. Reardon, D. (1994). Psychological Reactions Reported After Abortion. The Post-Abortion Review 2(3):4-8.
(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Estudos sobre as Consequências 

Físicas do Aborto: Visão Geral

O que é que eu aprendi em três anos de estudo dos efeitos do aborto legal?

Que existem inúmeras complicações e que não existem garantias de uma passagem segura. Nenhum médico, nenhum hospital, nenhuma clínica pode garantir a uma mulher que ela vai sobreviver a um aborto legal.” (1)
(Ann Saltenberger, investigadora)

Ao referir que o aborto induzido é 10 vezes mais seguro do que um parto, a propaganda de muitas clínicas de aborto (em países onde a prática está legalizada) cria uma falsa sensação de segurança nas mulheres que procuram os seus serviços. No entanto, esta prática está longe de ser segura. As mulheres que se submetem a um aborto induzido colocam a sua saúde em risco. Mesmo que o procedimento cirúrgico possa correr bem, a mulher não está livre de ter problemas a longo prazo. Em alguns casos, a prática do aborto pode resultar na morte da mulher. As principais causas de morte relacionadas com o aborto induzido resultam de infecções, hemorragias e perfurações uterinas.

Aproximadamente 10% das mulheres que se sujeitam a um aborto induzido sofrem de complicações imediatas, das quais cerca de um quinto (2%) são consideradas de risco para a vida da mulher. As oito complicações principais mais comuns que podem ocorrer são: infecção, embolia, perfuração ou dilaceração do útero, complicações com a anestesia, convulsões, hemorragia aguda, danos cervicais, e choque endotóxico.

As complicações menores mais comuns incluem: infecção, hemorragia, febre, queimaduras de segundo grau, dores abdominais crônicas, vômitos, distúrbios gastrointestinais, e sensibilização Rh (ocorre quando o sangue do feto se mistura com o sangue da mulher grávida e ambos tem Rh’s diferentes). (2)

Num estudo envolvendo 1428 mulheres, os investigadores verificaram que a perda durante a gravidez, em especial a perda causada por aborto induzido, estava significativamente relacionada com uma pior saúde geral (3). Enquanto que a gravidez interrompida por motivos naturais causava um detrimento na saúde, o aborto tinha ainda uma maior correlação com um mau estado de saúde. Estudos como este têm confirmado outros anteriores que referiam que no ano após o aborto, as mulheres frequentavam o seu médico de família 80% mais por diversas razões e 180% mais por razões psicológicas.

1. Saltenberger, A. (1982). Every Woman Has a Right to Know the Dangers of Legal Abortion. Air-Plus Enterprises, Glassboro, NJ.

2. Frank, P.I. (1985). Induced-Abortion Operations and Their Early Sequelae. Journal of the Royal College of General Practitioners 35(273):175-180.; Grimes, D.A. and Cates, W., Abortion: Methods and Complications, Human Reproduction, pp. 796-813.; Freedman, M.A., Jillson, D.A., Coffin, R.R. and Novick, L.F. (1986). Comparison of Complication Rates in 1st-Trimester Abortions Performed by Physician Assistants and Physicians. American Journal of Public Health 76(5):550-554.

  1. Ney, P.G., Fung, T., Wickett, A.R. and Beamandodd, C. (1994). The Effects of Pregnancy Loss on Womens Health. Social Science & Medicine 38(9):1193-1200.; Badgley, Caron and Powell (1997). Report of the Committee on the Abortion Law, Supply and Services, Ottawa.

Aborto e Incompetência Cervical


A incompetência cervical é a principal razão dos nascimentos precoces e perdas durante a gravidez. Pode resultar de uma dilatação forçada e precoce do colo do útero. Normalmente o colo do útero é rígido e apertado. Durante o procedimento de aborto induzido, os músculos cervicais tem de ser dilatados para abrir e permitir ao executante do aborto acesso ao útero. Quando uma placenta bem fixada é raspada juntamente com o feto através de um útero fechado protegido por um colo do útero longo ainda não maduro, este músculo em forma de anel pode ser e geralmente é forçado. Se um número significativo de fibras deste músculo forem distendidas, o colo do útero fica permanentemente enfraquecido ou “incompetente”, ocorrendo os danos maiores se for a primeira gravidez.

O resultado, a incompetência cervical, poderá manifestar-se numa gravidez futura. A mulher pode não conseguir manter o feto até ao fim do período de gestação porque o músculo que mantém o útero fechado suportando o feto está relaxado. Noutras palavras, o colo do útero torna-se fraco e não consegue permanecer fechado e suportar o peso de um feto em crescimento numa gravidez.

As laminárias utilizadas para dilatar o colo do útero antes do aborto induzido são agora raramente utilizadas na maior parte das clínicas porque implicam duas visitas, logo menos volume de pacientes, logo menor rendimento. Mas mesmo a utilização destas estruturas diminui mas não elimina o risco de incompetência cervical. (1)

1. Harlap, S., Shiono, P.H., Ramcharan, S., Berendes, H. and Pellegrin, F. (1979). Prospective-Study of Spontaneous Fetal Losses after Induced Abortions. New England Journal of Medicine 301(13):677-681.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Cancro Cervical, 

dos Ovários e do Fígado


Quando comparadas com mulheres que nunca realizaram um aborto, as mulheres que realizam um aborto têm um risco relativo de 2,3 de desenvolver cancro cervical (do colo uterino) e, mulheres com dois ou mais abortos realizados, enfrentam um risco relativo de 4,92. Riscos semelhantemente elevados de cancro dos ovários e do fígado têm sido ligados a um ou mais abortos. Este aumento de incidência de cancro em mulheres que recorreram a um aborto induzido está aparentemente ligado à interrupção anormal das alterações hormonais características da gravidez e a danos cervicais não tratados. (1)

Um estudo realizado na antiga União Soviética baseado em dados de estatísticas oficiais de aborto (legal desde a década de 50) e da incidência regional de cancro no período de 1959 a 1985 revelou uma contribuição significativa do aborto induzido na incidência do cancro cervical. (2)

1. Fujimoto, I., Nemoto, H., Fukuda, K., Masubuchi, S. and Masubuchi, K. (1985). Epidemiologic-Study of Carcinoma Insitu of the Cervix. Journal of Reproductive Medicine 30(7):535-540.; Risch, H.A., Weiss, N.S., Lyon, J.L., Daling, J.R. and Liff, J.M. (1983). Events of Reproductive Life and the Incidence of Epithelial Ovarian-Cancer. American Journal of Epidemiology 117(2):128-139.; Beral, V., Fraser, P. and Chilvers, C. (1978). Does Pregnancy Protect against Ovarian Cancer. Lancet 1(8073):1083-1087.; Lavecchia, C., Negri, E., Franceschi, S. and Davanzo, B. (1992). Reproductive Factors and the Risk of Hepatocellular-Carcinoma in Women. International Journal of Cancer 52(3):351-354.

2. Remennick, L.I. (1989). Reproductive Patterns and Cancer Incidence in Women – a Population-Based Correlation Study in the USSR. International Journal of Epidemiology 18(3):498-510.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Lacerações Cervicais


Em pelo menos 1% dos abortos realizados durante o primeiro trimestre de gestação ocorrem lacerações [ lesão resultante de um rasgamento de pele até ao tecido subcutâneo ] cervicais significantes que necessitam ser suturadas. O risco de danos cervicais é maior em adolescentes, em abortos durante o segundo trimestre, e quando quem os realiza utiliza inadequadamente a laminaria durante o processo de dilatação do colo do útero. (1)

Danos físicos e psicológicos resultantes do aborto são mais frequentes em jovens e adolescentes. Ao contrário das mulheres mais velhas, nestas idades o colo do útero ainda está imaturo, havendo por isso o risco de uma dilatação difícil e potencialmente traumática. Nestes casos o colo do útero é pequeno e apertado, especialmente em casos da primeira gravidez, e especialmente susceptível a danos durante a dilatação. Os problemas da prática do aborto nestas condições levam a outros problemas em gravidezes no futuro. Algumas das complicações mais graves ocorrem em adolescentes/jovens.

1. Schulz, D Grimes & W. Cates (1983). Measures to Prevent Cervical Injuries During Suction Curettage Abortion. Lancet (May 28):1182-1184; Cates W, K Schultz & D Grimes (1983). The Risks Associated with Teenage Abortion. New England Journal of Medicine 15:612-624; Castadot R (1986). Pregnancy Termination: Techniques, Risks, and Complications and Their Management. Fertility and Sterility 45(1):5-17.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Complicações na Gravidez


Comparadas com mulheres que levaram a gravidez até ao fim, mulheres que realizem um, dois, ou mais abortos induzidos têm respectivamente 1,89, 2,66, ou 2,03 vezes mais probabilidades de ter um nascimento precoce numa futura gravidez. Nascimentos antes do tempo aumentam o risco de morte neo-natal e deficiências. Um aborto induzido anterior não só aumenta o risco de nascimento precoce, mas também aumenta o risco de atraso no nascimento. Mulheres com um, dois, ou mais abortos induzidos têm 1,89, 2,61, e 2,23 vezes maior probabilidade de ter um nascimento pós-termo (mais de 42 semanas) numa gravidez futura. (1)

Em 2003 dois investigadores publicaram um estudo, baseado em 49 estudos diferentes realizados até à data, que mostra um risco significativo de nascimentos prematuros em mulheres que realizaram no passado aborto induzido. (2)

1. Zhou, W.J., Sorensen, H.T. and Olsen, J. (1999). Induced abortion and subsequent pregnancy duration. Obstetrics and Gynecology 94(6):948-953.

2. Rooney, B. and Calhoun, B.C. (2003). Induced Abortion and Risk of Later Premature Births. Journal of American Physicians and Surgeons 8(2):46-49.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Gravidez Ectópica


A gravidez ectópica é uma gravidez em que o óvulo fertilizado se implanta em qualquer tecido para além do revestimento do endométrio [ mucosa que reveste o interior da cavidade uterina ] no útero, geralmente nas Trompas de Falópio. O aborto induzido está relacionado com um aumento do risco de subsequente gravidez ectópica. Este problema, por usa vez, pode colocar em risco a vida da mãe e resultar numa redução da fertilidade. (1)

1. Daling, J.R., Chow, W.H., Weiss, N.S., Metch, B.J. and Soderstrom, R. (1985). Ectopic Pregnancy in Relation to Previous Induced-Abortion. Jama-Journal of the American Medical Association 253(7):1005-1008.; Levin, A.A., Schoenbaum, S.C., Stubblefield, P.G., Zimicki, S., Monson, R.R. and Ryan, K.J. (1982). Ectopic Pregnancy and Prior Induced-Abortion. American Journal of Public Health 72(3):253-256.; Chung, C.S., Smith, R.G., Steinhoff, P.G. and Mi, M.P. (1982). Induced-Abortion and Ectopic Pregnancy in Subsequent Pregnancies. American Journal of Epidemiology 115(6):879-887.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Cancro da Mama


A ligação entre o aborto induzido e o aumento do risco de cancro da mama tem sido uma das relações causa/efeito mais disputadas na discussão sobre as sequelas físicas do aborto. Ainda recentemente foi publicado mais um estudo sobre o assunto e que, nas palavras dos seus autores, “põe termo à discussão” ao mostrar não existir qualquer ligação entre o aborto e o cancro da mama (1). Mas muitas vozes dentro da comunidade científica e médica já se levantaram contra a validade e exatidão deste estudo (2). Pouco tempo antes deste estudo ter sido publicado, um outro (ou outro mais) referia precisamente o contrário, mostrando que não só a ligação está provada para além de qualquer dúvida, como ainda defende ser um crime não informar as mulheres que procuram um aborto de potenciais problemas futuros. (3)

A explicação convencional para a ligação do aborto ao cancro da mama prende-se com as características do desenvolvimento do peito durante o período de gestação. Durante os dois primeiros trimestres da gravidez, o peito da mulher sofre uma proliferação explosiva de células devido ao aumento acentuado da produção da hormona feminina estrogênio. À medida que a gravidez se desenvolve, o peito contém cada vez mais células indiferenciadas e vulneráveis ao cancro. É apenas no terceiro trimestre que estas células se diferenciam em células produtoras de leite, tornando-se menos vulneráveis a agentes cancerígenos. Se a gravidez nunca atinge o terceiro trimestre, por ser interrompida prematuramente, é retirada a proteção natural contra o cancro da mama que uma gravidez completa fornece. Esta interrupção aumenta também o risco de cancro muito para além daquele que a mulher teria se nunca tivesse ficado grávida em primeiro lugar.

O risco de cancro da mama quase duplica após um aborto e pode ainda aumentar após dois ou mais abortos (4). Até recentemente, dos trinta e sete estudos publicados que tentavam estabelecer uma ligação entre o aborto induzido e o cancro da mama, vinte e oito mostravam haver uma ligação. Sete deles chegam a referir a duplicação do aumento do risco.

No ano de 2000 um médico inglês, Thomas Stuttaford, referiu num artigo publicado no The Times of London estar céptico no que diz respeito a esta relação. Mas o amontoar de provas sobre ela levou o mesmo médico a escrever algum tempo depois (17 de Maio, 2002) no mesmo jornal: “O cancro da mama é diagnosticado em 33.000 mulheres no Reino Unido todos os anos; destas mulheres, uma proporção elevada não habitual teve um aborto antes de eventualmente começar uma família. Tais mulheres têm quatro vezes mais probabilidade de desenvolver cancro da mama.”

A conclusão de um estudo realizado recentemente, o qual foi baseado numa análise comparativa de 61 resultados publicados em outros estudos, foi: “Os resultados suportam a inclusão do aborto induzido entre os factores independentes de risco significante de cancro da mama (…). Apesar do aumento de risco ter sido relativamente baixo, a elevada incidência do cancro da mama e do aborto induzido sugerem um impacto substancial de milhares de casos de excesso por ano atualmente, e um impacto potencialmente maior no próximo século, à medida que o primeiro grupo de mulheres expostas ao aborto legal induzido continuar a envelhecer.” (5)

Outro estudo também recente, apresenta uma conclusão semelhante: “Os dados científicos e fisiológicos fornecem provas esmagadoras da espada de dois gumes da gravidez no que respeita ao cancro da mama (6). Uma gravidez levada até ao fim fornece proteção contra o risco de cancro, especialmente em mulheres jovens durante a primeira gravidez. Pelo contrário, interromper a gravidez com um aborto induzido, especialmente quando a mulher é muito nova e é a sua primeira gravidez, pode aumentar significativamente o risco de cancro da mama (…) A maior parte dos factores de risco de cancro da mama estão fora do controlo humano, mas o aborto induzido é uma questão de escolha e, com avisos e informação, a sua influência como fator de risco pode ser diminuída.”

Ainda a este respeito, um estudo mais recente conclui que “apesar de permanecer incerto se o aborto eletivo aumenta o cancro da mama subsequente, é certo que a decisão de abortar e atrasar a gravidez culmina numa perda de proteção em que o efeito final é um risco aumentado.” (7)

Nos casos de pacientes que enfrentam um procedimento cirúrgico ou até mesmo uma terapia médica como a substituição de hormonas, é geralmente dado conhecimento sobre as potenciais ameaças à sua saúde futura, mesmo que esses efeitos sejam infrequentes noutros pacientes e não completamente provados. Porque haveria de ser diferente em relação ao aborto? Para mulheres que contemplam o aborto, a informação sobre as evidências que apontam para um aumento do risco de cancro deve ser ponderada na tomada de decisão. Mesmo no caso de mulheres que já se submeteram a um ou mais abortos, ao serem informadas da possível ligação poderão tomar medidas especiais de redução do risco como por exemplo um controlo mais frequente. Ao ser omitida esta informação, nega-se uma oportunidade de prevenção.

1. Beral, V. and e. al. (2004). Collaborative Group on Hormonal Factors in Breast Cancer. Lancet 363:1007-1016.

2. Reardon, D. C. (2004). Abortion and Breast Cancer. Lancet 365:1910-1911.

3. Malec, K. (2003). The Abortion-Breast Cancer Link: How Politics Trumped Science and Informed Consent. Journal of American Physicians and Surgeons 8(2):41-45.

4. Howe, H.L., Senie, R.T., Bzduch, H. and Herzfeld, P. (1989). Early Abortion and Breast-Cancer Risk among Women under Age 40. International Journal of Epidemiology 18(2):300-304.; Remennick, L.I. (1990). Induced-Abortion as Cancer Risk Factor – a Review of Epidemiologic Evidence. Journal of Epidemiology and Community Health 44(4):259-264.; Pike, M.C., Henderson, B.E., Casagrande, J.T., Rosario, I. and Gray, G.E. (1981). Oral-Contraceptive Use and Early Abortion as Risk-Factors for Breast-Cancer in Young-Women. British Journal of Cancer 43(1):72-76.

5. Brind, J., Chinchilli, V.M., Severs, W.B. and SummyLong, J. (1996). Induced abortion as an independent risk factor for breast cancer: A comprehensive review and meta-analysis. Journal of Epidemiology and Community Health 50(5):481-496.

6. Lucille, C. (1997). Breast Cancer Risk: Protective Effect of an Early First Full-Term Pregnancy Versus Increased Risk of Induced Abortion. Oncology Nursing Forum 24(6):1025–1031.

7. Thorp, J.M., Hartmann, K.E. and Shadigian, E. (2003). Long-term physical and psychological health consequences of induced abortion: Review of the evidence. Obstetrical & Gynecological Survey 58(1):67-79.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Relação entre Aborto e Cancro da Mama

Em 1970, a Organização Mundial de Saúde – World Health Organization (W.H.O.) – publicou os resultados da sua investigação sobre a experiência reprodutiva em relação à incidência do cancro da mama. O estudo, no qual tomaram parte mais de 17 mil mulheres em sete lugares de quatro continentes, obteve informações que são indiscutíveis ainda muitos anos depois.

As mulheres que começam a ter filhos sendo ainda jovens têm menos probabilidade de sofrer de cancro da mama que aquelas que têm filhos numa idade mais avançada, ou que aquelas que não os têm.

Que proteção adquirem contra o cancro? Baseando-se nos seus resultados, os cientistas da W.H.O. Concluíram:

Estima-se que as mulheres que têm o seu primeiro filho antes dos 18 anos têm só cerca de um terço do risco de sofrer de cancro da mama que aquelas cuja primeira gravidez aconteceu aos 35 anos ou depois.”

Significa isto que uma mulher jovem que fique grávida diminui o risco de ter cancro da mama, mesmo que ela tenha um aborto? Em relação ao aborto, os cientistas da W.H.O. afirmaram que os seus resultados:

sugerem um aumento de risco associado ao aborto – contrariamente à redução do risco associado com as gravidezes levadas a termo, ao dar à luz.”

Estudos de investigação, publicados em respeitáveis publicações médicas, confirmaram estas conclusões 2 e a sua causa hormonal:

Vinte e cinco de trinta e um estudos epidemiológicos 3-33 mundiais – estudos em mulheres de ascendência Africana, Asiática e Europeia – concluíram que mesmo um único aborto aumenta o risco de adquirir mais tarde cancro da mama.

Um dado importante é que a este aumento do risco por causa do aborto se acrescenta um risco maior, por se atrasar a primeira gravidez levada a termo, portanto, o aborto aumenta o risco de sofrer de cancro da mama de duas maneiras!

Já se perguntou porque é que, em menos de meio século, enquanto que o aborto se legalizou e se tornou numa prática comum, a incidência de cancro da mama no mundo industrializado aumentou mais do dobro ? 34,35.

Tem perguntas sobre o verdadeiro impacto que terá nas mulheres do seu país a importação dos “direitos reprodutivos” dos países industrializados?

O sistema de saúde pública do seu país está preparado para uma epidemia de cancro da mama?

A Ligação Estrogêneo:

Porque é que os abortos induzidos fazem aumentar o risco de ter cancro da mama, o que não acontece na maioria dos abortos espontâneos?

O estrogêneo é a hormona – o mensageiro químico – que, na puberdade, converte o corpo de uma menina no corpo de uma mulher. Na verdade, há uma série de esteroides, estrogêneos, que podem estimular o desenvolvimento da mama e de outros tecidos femininos. O estrogêneo mais abundante e importante que os ovários femininos segregam chama-se estradiol. O estradiol é tão potente que a sua concentração no corpo de uma mulher se mede em partes por triliões. O estradiol – uma décima parte – também se produz no corpo do homem e tanto homens como mulheres precisam de estradiol para o crescimento normal e para a manutenção dos ossos.

Depois da puberdade, os níveis de estrogêneo sobem e baixam duas vezes em cada ciclo menstrual. Sobre a influência da hormona folículo-estimulante da hipófise, novos folículos com óvulos crescem nos ovários durante a primeira metade (chamada fase folicular ) do ciclo menstrual. As células foliculares que segregam o estradiol e que rodeiam os óvulos proliferam e por isso os ovários produzem quantidades cada vez maiores de estradiol, alcançando o pico no dia anterior à ovulação. Normalmente, este pico pré–ovulatório é o nível mais elevado de estradiol no sangue que uma mulher não–grávida experimenta. Serve de estímulo à hipófise, de modo a que esta segregue outra hormona, a hormona luteinizante (LH) que despoleta a ovulação.

Depois da ovulação, o folículo que expulsou o óvulo enche-se com um novo tipo de células chamadas células lúteas. Estas células lúteas proliferam sobre a influência da LH pituitária e, por sua vez, fazem segregar quantidades ainda maiores tanto de estradiol como da hormona progesterona da gravidez, da qual o estradiol se forma.

Como a secreção pituitária de LH baixa drasticamente depois da ovulação, o corpo amarelo (como se chama agora o folículo anterior) começa a diminuir uma semana depois da ovulação, a não ser que se tenha dado a fertilização do óvulo ( concepção ). Se ocorreu a concepção, o embrião começa a segregar outro mensageiro químico quase imediatamente: a gonadotrofina coriônica humana (HCG) que atua como a LH para “salvar” o corpo amarelo. Se não houve concepção, o corpo amarelo morre. Como o estrogêneo e a progesterona são respectivamente necessários para o crescimento e a maturidade do endométrio (o epitélio do útero na qual se implanta o embrião), este descama na menstruação.

(* Embora o HCG seja usualmente referido como uma hormona, na verdade, não é. Como é uma mensagem química entre dois indivíduos de uma espécie (neste caso, mãe e filho) é mais apropriadamente descrito como sendo uma feromona. Como normalmente não é segregado pelo corpo feminino, o detectar específico da sua presença é a base de todo o teste de gravidez.).

Se, pelo contrário, houve concepção e se salvou o corpo amarelo, este começa a gerar concentrações enormes de progesterona (necessárias para permitir a implantação do embrião e a manutenção da gravidez) e de estradiol. Níveis de estradiol significativamente elevados (comparados com os níveis em mulheres não-grávidas na mesma fase do ciclo menstrual) podem ser detectados cedo, nos 5 dias posteriores à concepção. 36 Como se mostra na Figura 1 , pelas 7 a 8 semanas de gestação (depois do último período menstrual, o UPM), o sangue de uma mulher grávida já contém seis vezes mais estradiol (i.e., 500% mais) que no momento da concepção, mais do dobro que o nível mais alto obtido durante o estado de não-gravidez (o pico pré-ovulatório) 37.

Em notável contraste, as gravidezes destinadas a abortar espontaneamente (i.e., que acabam num desmancho) durante o primeiro semestre não geram, normalmente, estradiol em quantidades que excedam os níveis do estado de não-gravidez37,38 (Figura 1). Já em 1976, uma equipa de obstetras suíços foi capaz de prever abortos espontâneos com uma exatidão de 92% com só uma medida de estradiol!38 Teoricamente, isto faz sentido: a causa do aborto espontâneo é o nível inadequado de progesterona da qual se forma o estradiol.

mama1

A relação entre o estradiol ou os estrogêneos, em geral, com o risco do cancro da mama, deve-se ao papel que têm no crescimento do tecido da mama. O estradiol faz com que a mama cresça para um tamanho maduro durante a puberdade e que cresça uma vez mais durante a gravidez (pelo menos durante os dois primeiros trimestres). As células da mama que são sensíveis ao estímulo do estradiol são as primitivas ou indiferenciadas. Uma vez terminalmente diferenciadas e constituídas em células produtoras de leite, o que sucede sobre a influência de outros factores (ainda bastante desconhecidos), as células da mama deixam de responder a estímulos de reprodução.

São as células indiferenciadas que são também vulneráveis aos efeitos dos carcinogêneos (como a radiação, os produtos químicos, etc.) as que podem produzir tumores cancerígenos um dia mais tarde. Portanto, se uma mulher já passou por algumas semanas de uma gravidez normal e logo aborta essa gravidez, retém mais dessas células vulneráveis ao cancro do que as que tinha antes de ficar grávida. Além disso, qualquer célula anormal, com a potencialidade de formar o cancro, já existente no seu peito (e tais células estão presentes em alguma medida em todas as pessoas) foi estimulada a multiplicar-se. Tudo isto significa uma maior probabilidade estatística do que o aparecimento eventual de um tumor cancerígeno.

Diferentemente, uma gravidez levada a termo produz a plena diferenciação dos tecidos da mama com o fim da produção de leite, o que deixa na mesma menos células vulneráveis ao cancro das que lá estavam antes do começo da gravidez. Isto significa a bem conhecida redução do risco de cancro da mama como consequência de uma gravidez levada a termo.

Também é bem sabido que as mulheres que começam a ter filhos ainda jovens, diminuem o risco de ter cancro da mama mais tarde 1. Quanto mais cedo o peito se torne maduro com o fim de produzir leite, menos provável é a presença de células anormais, vulneráveis ao cancro proveniente de abusos carcinogêneos (e o que quer que estes sejam é ainda bastante desconhecido). Sustentando esta teoria, um estudo experimental sobre o efeito de gravidezes e abortos induzidos na incidência de cancro da mama em ratas jovens tratadas com carcinogêneos químicos foi publicado em 1980 39. A mesma equipa de investigação publicou também um estudo excelente sobre a diferenciação dos tecidos da mama humana como função da gravidez e da idade 40.

Além disso, como há sempre células indiferenciadas (e inclusive algumas células anormais) na mama das mulheres, o excesso de exposição aos efeitos promotores do crescimento do estradiol ou outros estrogêneos, contribui para o risco de cancro da mama cada vez que ocorra essa exposição.

Não é de surpreender, portanto, que os factores de risco de cancro da mama mais conhecidos envolvam alguma forma de excesso de exposição aos estrogêneos. Por exemplo, mulheres que atingem a puberdade muito cedo ou que entrem na menopausa tardiamente, ou que tenham poucos filhos ou nenhum, estão mais expostas aos aumentos de estradiol que ocorrem com os ciclos menstruais. As mulheres que dão de mamar aos seus filhos também experimentam menos ciclos menstruais e por isso, reduzem o risco de ter cancro da mama.

Mesmo os factores de risco não relacionados com a reprodução parece que operam através de mecanismos mediados pelo estrogêneo. Por exemplo, a obesidade pós-menopáusica eleva o risco, supostamente porque as células adiposas (gordas) sintetizam os estrogêneos, do aumento dos níveis de estrogêneos no sangue dessas mulheres. Até mesmo o consumo crônico de álcool parece aumentar o risco de cancro da mama através do aumento dos níveis de estrogêneos no sangue da mulher. Isto também sucede em dietas altas em gorduras animais comparadas com dietas vegetarianas. Pelo contrário, certos vegetais reconhecidos como protetores contra o cancro, por exemplo, os da família dos brócolos e da couve, ajudam o corpo feminino a eliminar estrogêneos mais rapidamente.

Como o efeito dos estrogêneos no risco do cancro da mama foi reconhecido desde há muitos anos, os médicos são cautelosos ao receitar alguns medicamentos, como a terapia para substituição de estrogêneos na pós–menopausa de mulheres mais velhas, especialmente naquelas com histórias médicas de cancro da mama na família. Segundo parece, estes medicamentos elevam ligeiramente o risco de cancro da mama, se se utilizam por vários anos.

Deduz-se por isso que os médicos deveriam ter-se preocupado desde há muito com o possível aumento do risco de cancro da mama atribuível aos abortos induzidos, dado o nível extremamente alto de estradiol que experimentam as mulheres, mesmo nas primeiras semanas de uma gravidez normal.

Finalmente, há outro aspecto crucial dos abortos espontâneos em relação ao risco de cancro da mama que deverá ser realçado, isto é, o efeito de desmanchos espontâneos no segundo trimestre. O maior número de perdas de gravidez ocorre no primeiro trimestre e mais de 90% destas caracterizam-se pelos níveis anormalmente baixos38 de estradiol na mãe. Contudo, há motivos para crer que as gravidezes que sobrevivem no primeiro trimestre (o que não sucederia sem um nível suficientemente alto de progesteronas, que são paralelas ao estradiol) provavelmente aumentam o risco de cancro da mama se terminam em desmancho.

Figura 2 – Representação esquemática da mama: a) de uma mulher que nunca esteve grávida e b) no final de uma gravidez levada a termo. A mama de uma mulher que nunca esteve grávida consiste em canais e lobos terminais primitivos, vulneráveis a carcinogêneos, enquanto as mamas lactantes consistem, na sua maior parte, de lobos maduros – aglomerado de alvéolos que segregam leite – os quais são resistentes aos carcinógenos. (Adaptado das referências #39 e 40)

A Conferência Mundial sobre o Cancro da Mama reconhece a ligação entre o aborto e o cancro da mama.

A primeira Conferência Mundial sobre o Cancro da Mama teve lugar em Julho de 1997 em Kingston, Ontário, Canadá. A conferência foi co-empreendida pela Organização Feminina do Ambiente e Desenvolvimento ( Women’s Environment and Development Organization ) que na altura era presidida por Bella Abzug.

Na conferência, o Dr. Joel Brind, Professor de Endocrinologia na Universidade de Baruch, da Cidade Universitária de Nova Iorque e Diretor da Revista Trimestral Atualizada sobre o Aborto e Cancro da mama ( Abortion-Breast Cancer Quarterly Update ), dirigiu um seminário sobre a ligação entre o aborto e o cancro da mama. O discurso do Dr. Brind incluía uma atualização da “revisão compreensiva e meta-análise” 2 deste problema, publicado originariamente no Jornal de Epidemiologia e Saúde Comunitária (Journal of Epidemiology and Community Health) da Associação Médica da Grã-Bretanha. Bella Abzug assistiu ao seminário do Dr. Brind e participou numa discussão cordial e animada sobre a ligação entre o aborto e o cancro da mama.

Um ano depois, no Outono de 1998, a Conferência Mundial publicou o seu Relatório do Plano de Ação Global (Global Action Plan Report) 41, no qual a organização expunha a sua agenda para a erradicação definitiva do cancro da mama. Sob o título de factores de risco relacionados com as hormonas, o Relatório diz em parte pertinente:

Hoje em dia, as mulheres em geral estão mais expostas a níveis altos de estrogêneo durante a sua vida que o que era costume nas gerações anteriores. Acredita-se que agora as mulheres enfrentam níveis excessivos de estrogêneo tanto naturais como sintéticos, aumentando o risco de virem a ter cancro da mama. O uso prolongado de pílulas de controlo da natalidade, gravidezes tardias ou falta delas e o não dar de mamar, ABORTOS INDUZIDOS, uma dieta alta em gorduras, em carne ou em produtos lácteos e a terapia de substituição de hormonas depois da menopausa, todos são citados como factores de risco que aumentam os estrogêneos e o cancro da mama .”

LEMBRE-SE: Os direitos reprodutivos não têm significado sem o direito da mulher a saber todas as consequências das opções que faça!

Referências citadas:

1. MacMahon B. et al. Bull Wld Health Org 1970;43:209-21.

2. Brind J. et al. J Epidemiol Community Hlth 1996;50:481-96.

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32. Rohan TE and 33. Zaridze DG, in #31 above.

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40. Russo J et al. Brst Cancer Res Trt 1992;23:211-8.

41.1997 World Conference on Breast Cancer – Global Action Plan Report, Kingston, ON, Canada, 1998, p.15.

Estas informações foram produzidas num esforço conjunto do Endeavour Forum, Inc., 12 Denham Place, Toorak, Victoria 3142, Austrália; telefone: +613-9822-5218; faxe: +613-9822-3069, Prof.ª Doutora Babette Francis, Coordenadora Nacional e Internacional e também da Revista Abortion-Breast Cancer Quarterly Update, P.O. Box 3127, Poughkeepsic, NY, 12603 EUA; telefone & faxe: 914-463-3728.

e-mail: jbrind@abortioncancer.com, Prof. Doutor Joel Brind, Director e Editor.

(Traduzido por Joana Godinho, que teve a gentileza de nos enviar esta colaboração)


Investigação Sólida:

Aborto - Cancro da Mama

Relação entre aborto e cancro da mama.
Por: Drª Angela Lanfranchi.
A Drª Angela Lanfranchi é cirurgiã da mama, membro do American College of Surgeons, e professora assistente de Cirurgia no “Robert Wood Johnson Medical School” em New Jersey.

Quando em 1993 ouvi falar pela primeira vez da relação entre aborto [provocado] e cancro da mama julguei que se tratava de uma fantasia pró-vida. “Estão loucos”, foi o meu juízo imediato. Apesar disso comecei a questionar as minhas pacientes com cancro da mama sobre as suas gravidezes e a sua trajetória. Os resultados surpreenderam-me.

Nos primeiros seis meses tive duas pacientes na casa dos 30 anos com cancro da mama; uma teve sete gravidezes e seis abortos e a outra cinco gravidezes e três abortos. Continuei a ver mais mulheres jovens com antecedentes de aborto a desenvolverem cancro na mama. Evidentemente poderia estar diante de um acaso estatístico.

Em 1996, o professor Joel Brind, da Universidade de Nova York, publicou a sua meta-análise, que revelou que 23 em 28 estudos mostravam uma relação entre aborto e cancro da mama. O alvoroço que tal estudo provocou na Grã-Bretanha, onde foi publicado no Journal of Epidemiology and Community Health, levou o editor a escrever: “Admito que todos aqueles que, como eu, têm convicções “pró-escolha” precisam de, ao mesmo tempo, desenvolver uma convicção que poderia ser chamada de “pró-informação”, evitando censuras paternalistas excessivas aos dados”. De censura paternalista foi a minha experiência todas as vezes que tentei falar nos meios científicos sobre a relação aborto-cancro da mama.

Cerca de 85% dos fumadores não desenvolvem cancro no pulmão. Os médicos que advertem os seus pacientes fumadores do risco de cancro nos pulmões não são considerados “mercenários do medo”. De igual modo, nem todas as mulheres que fizeram abortos padecerão de cancro da mama, apenas 5%. E 95% das pacientes com cancro da mama não terão um historial clínico de aborto. Mas algumas mulheres têm um elevado risco de o contrair. E 5% são muitas mulheres.

Um estudo publicado em 1994 no Journal of the National Cancer Institute mostrou que jovens com menos de 18 anos, que abortem entre as 9 e as 24 semanas, têm cerca de 30% de probabilidade de contrair cancro da mama durante a vida. A página web do US National Cancer Institute sobre riscos reprodutivos, informa as mulheres de que existem estudos que demonstram essa relação.

Muitas pessoas interrogam-me sobre abortos espontâneos no primeiro trimestre de gravidez. Em relação aos efeitos sobre os seios, trata-se de um caso diferente do aborto provocado sobre uma gravidez normal. O aborto espontâneo não aumenta o risco de cancro da mama, dado que está associado a baixos níveis de estrogênio. No entanto, quando a gravidez termina antes das células mamárias alcançarem a sua plena maturidade, a mulher adquire mais lóbulos mamários dos tipos 1 e 2 (glândulas lácteas) do que antes do início da gravidez, pelo que esse risco aumenta. Os seus seios não amadureceram os lóbulos 3 e 4, o que aconteceria no terceiro trimestre e diminuiria tal risco.

A ideologia não deveria impedir a divulgação destas informações. As organizações australianas desajudam as mulheres a exercitar um consentimento informado sempre que lhes negam o conhecimento destes dados. Há 3 ações judiciais em curso nos EUA, interpostas por mulheres não advertidas para este risco antes de abortarem.

Tenho 3 irmãs com cancro da mama e fico ofendida com as pessoas que manipulam os dados científicos em proveito dos seus intuitos, sejam quem forem. Gostava de não encontrar qualquer associação entre aborto e cancro da mama, mas a nossa investigação é sólida e os nossos dados exatos. Não é uma questão de acreditar. É uma questão de constatar.

A informação dá às mulheres a capacidade de fazerem escolhas informadas. As mulheres que optam pelo aborto precisam de estar alerta em relação aos riscos elevados, fazendo mamografias mais cedo e com maior regularidade. Os cancros detectados em mamografias têm maior probabilidade de se encontrarem no estádio inicial e de serem curados. Nenhuma mulher deveria morrer com cancro da mama por não ter sido advertida a tempo para tal risco.

Vi a minha mãe morrer com metástases de cancro da mama. No exercício da minha profissão vejo mulheres jovens com filhos pequenos morrer de cancro da mama. Se a informação que eu presto às minhas pacientes evitar uma morte que seja, com toda a alegria pago o preço de ser considerada uma “mercenária do medo”.

( este texto foi publicado em Factos da Vida)

Fonte: The Age (Australia); Pro-Life Infonet.

Mais informação sobre aborto e cancro da mama:

Coalition on Abortion/Breast Cancer: http://www.abortionbreastcancer.com/


Aborto e Placenta Prévia


O resultado de um aborto pode refletir-se numa gravidez futura. O aborto aumenta entre sete a quinze vezes o risco de placenta prévia (quando a placenta se instalada próxima do colo do útero, uma condição clínica que coloca em risco a vida da mãe e do feto “desejado”) durante estados mais avançados de gravidez (1). O desenvolvimento anormal da placenta devido a danos uterinos causados por um aborto induzido aumenta o risco numa gravidez futura de má formação fetal, morte perinatal [ que se produz na proximidade do nascimento; o período perinatal está compreendido entre as ultimas semanas da gestação e os 10 dias seguintes ao nascimento ], e sangramento excessivo durante o parto.

1. Barrett, J.M., Boehm, F.H. and Killam, A.P. (1981). Induced-Abortion – a Risk Factor for Placenta Previa. American Journal of Obstetrics and Gynecology 141(7):769-772.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Doença Pélvica Inflamatória


A DPI é uma doença infecciosa do trato genital superior que pode afetar o útero, ovários, trompas de Falópio e outras estruturas relacionadas. Quando não tratada, esta condição pode causar infertilidade, dores pélvicas crônicas, e aumentar o risco de gravidez ectópica que pode colocar a vida da mulher em perigo. Das pacientes com uma infecção de clamídia [ gênero de microrganismos patogênicos para diversos animais e para o homem ] na altura do aborto (cerca de 20 a 27% das pacientes que se submetem a um aborto), 23% desenvolve a DPI dentro de quatro semanas. Aproximadamente 5% das pacientes não infectadas com clamídia desenvolvem DPI nas quatro semanas após um aborto no primeiro trimestre. (1)

O mínimo a esperar de quem executa abortos é um exame para determinar se a mulher tem clamídia e, caso tenha, tratar esta infecção antes do aborto. Claro que este procedimento só atrasa o aborto. E no caso das clínicas de aborto, tempo é dinheiro.

1. Westergaard, L., Philipsen, T. and Scheibel, J. (1982). Significance of Cervical Chlamydia-Trachomatis Infection in Post-Abortal Pelvic Inflammatory Disease. Obstetrics and Gynecology 60(3):322-325.; Barbacci, M.B., Spence, M.R., Kappus, E.W., Burkman, R.C., Rao, L. and Quinn, T.C. (1986). Postabortal Endometritis and Isolation of Chlamydia-Trachomatis. Obstetrics and Gynecology 68(5):686-690.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Infecções


A infecção do trato genital é uma complicação que surge com frequência após um aborto induzido. Uma outra complicação que pode levar à morte da mulher é a formação de um abcesso pélvico, que resulta quase sempre de uma perfuração do útero ou, em alguns casos, também dos intestinos.

A infecção do ventre e das trompas resulta algumas das vezes em danos permanentes. As trompas de Falópio [ cada um dos dois canais, à esquerda e à direita, que se prolongam até aos ovários e que terminam por uma região em forma de funil ], sendo um órgão frágil e extremamente fino, podem sofrer aderências [ união de dois órgãos ou de duas superfícies contíguas normalmente separadas ] em resultado de uma infecção. A infecção típica que envolve estes órgãos é conhecida como a doença pélvica inflamatória (PID) A febre que se poderá seguir após um aborto induzido pode indicar esta condição clínica.

Mulheres com uma infecção provocada pela bactéria Chlamydia trachomatis submetidas a um aborto induzido correm o risco de desenvolver PID. Para além de ser difícil de tratar, esta situação pode levar à infertilidade mesmo com tratamento adequado e a possíveis gravidezes ectópicas no futuro.

Também têm sido reportadas outras infecções pós-aborto, como a pancreatite [ inflamação do pâncreas ] com necrose [ Processo de degeneração que termina na destruição de células e/ou tecidos ]possivelmente induzida pelas drogas administradas no decorrer do aborto clínico para minimizar as dores ou pare induzir o aborto. (1)

1. Hallberg, P., E. Hallberg and H. Amini (2004). Acute pancreatitis following medical abortion: Case report. BMC Women’s Health 4(1).

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Endometrite


A endometrite (inflamação ou irritação do endométrio) é um risco pós-aborto para todas as mulheres, especialmente para as adolescentes, que têm 2,5 vezes mais probabilidade do que mulheres entre os 20 e 29 anos de contrair esta condição após um aborto. (1)

1. Burkman, R.T., Atienza, M.F. and King, T.M. (1984). Morbidity Risk among Young Adolescents Undergoing Elective Abortion. Contraception 30(2):99-105.; Barbacci, M.B., Spence, M.R., Kappus, E.W., Burkman, R.C., Rao, L. and Quinn, T.C. (1986). Postabortal Endometritis and Isolation of Chlamydia-Trachomatis. Obstetrics and Gynecology 68(5):686-690.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Hemorragias


O sangramento após um aborto induzido é geralmente semelhante ao período menstrual normal. Mas as hemorragias são frequentes após um aborto induzido e podem indicar que partes da placenta ainda ficaram dentro do útero. Quase sempre a mulher recupera mas, em alguns casos, torna-se necessária uma transfusão de sangue. Em casos de clínicas mal preparadas (em que é elevada percentagem em todos os países onde o aborto é legal), este tipo de problemas implica que a mulher seja transferida para um hospital de modo a poder receber uma transfusão de sangue e ser sujeita a uma cirurgia de emergência. Atrasos neste processo têm sido apontados como a causa de morte de muitas mulheres que se submetem a um aborto induzido. Quando a hemorragia resulta de partes da placenta que ainda ficaram dentro do útero, a mulher tem que se sujeitar de novo a um procedimento semelhante ao do aborto (geralmente por aspiração). É necessário realçar que um aborto realizado em clínicas especializadas não resolve este problema, porque ainda assim a mulher tem de ser transferida para um hospital.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Coágulos de Sangue


Os coágulos de sangue são uma das causas de morte das mães que dão à luz de uma forma normal. São também uma causa de morte de jovens saudáveis que executam um aborto.

Êmbolos são também um problema (objetos flutuantes no sangue que se alojam nos pulmões, coração, ou cérebro provocando uma condição conhecida como embolia). O nascimento de um bebé é um processo natural e o corpo da mulher está bem preparado para o nascimento da criança e para a separação e expulsão da placenta. O aborto cirúrgico induzido é um processo anormal e corta a placenta da parede do útero quando nenhum destes está preparado para esta separação. Isto leva, por vezes, a que o fluido que envolve o feto e partes de tecido ou coágulos de sangue sejam forçados para a circulação materna. Estes podem ser transportados para os pulmões através da circulação sanguínea causando danos e ocasionalmente a morte.

Este tem sido o motivo da principal causa de morte da mãe no aborto induzido pelo método do envenenamento salino. O embolismo causado pelo fluido amniótico emergiu como uma importante causa de morte em abortos legais. Este risco parece ser maior após os primeiros 3 meses de gestação.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Perfurações Uterinas


Apesar de musculares, as paredes do útero são moles e sensíveis. Por esse motivo, o tubo de sucção utilizado no aborto por aspiração ou a faca (D&C) podem facilmente perfurar o útero, causando potenciais infecções abdominais (peritonites: infecção da membrana serosa formada por dois folhetos, que reveste as paredes profundas do abdômen ou envolve os órgãos abdominais ) e perdas de sangue graves. Em alguns casos, a perfuração durante o procedimento de aborto pode mesmo fazer com que os intestinos penetrem na cavidade uterina. Cerca de 2 a 3% das mulheres que se submetem a um aborto podem sofrer de perfurações uterinas. Estes danos mantêm-se geralmente por diagnosticar e tratar a menos que seja efetuado um exame com laparoscopia [ exame visual da cavidade abdominal (previamente distendida por injeção de ar ou de gases estéreis, por meio de um endoscópio introduzido através da parede abdominal, ou por via vaginal ]. (1)

O risco de perfuração do útero aumenta em mulheres que já tenham dado à luz anteriormente e para aquelas que recebem uma anestesia geral durante o procedimento do aborto. Os danos no útero podem resultar em complicações numa gravidez futura e eventualmente evoluir para problemas que tornem necessária um histerectomia (remoção do útero). (2)

1. Kaali, S.G., Szigetvari, I.A. and Bartfai, G.S. (1989). The Frequency and Management of Uterine Perforations During 1st-Trimester Abortions. American Journal of Obstetrics and Gynecology 161(2):406-408.; White, M.K., Ory, H.W. and Goldenberg, L.A. (1977). Case-Control Study of Uterine Perforations Documented at Laparoscopy. American Journal of Obstetrics and Gynecology 129(6):623-628.

2. Grimes, D.A., Schulz, K.F. and Cates, W.J. (1984). Prevention of Uterine Perforation During Curettage Abortion. Jama-Journal of the American Medical Association 251(16):2108-2111.; Grimes, D.A., Schulz, K.F., Cates, W. and Tyler, C.W. (1979). Local Versus General-Anesthesia – Which Is Safer for Performing Suction Curettage Abortions. American Journal of Obstetrics and Gynecology 135(8):1030-1035.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Morte


Estudos recentes têm demonstrado que a prática do aborto induzido não é segura sob nenhumas circunstâncias e que, ao contrário do argumento popular, não é mais seguro que o parto. À luz de estudos recentes, o mito do “aborto seguro” está finalmente arrumado.

Um estudo sobre as taxas de mortalidade após a gravidez e aborto, realizado na Finlândia em 1997 e financiado pelo governo, revelou que as mulheres que abortam tem quatro vezes maior probabilidades de morrer no ano seguinte do que as mulheres que levam a gravidez até ao fim. (1) Este estudo é apontado como o mais exaustivo até ao momento sobre o assunto. O mesmo estudo refere que após realizarem o aborto as mulheres aumentavam em 60% as probabilidades de morrer de morte natural, têm sete vezes maior probabilidade de morrer por suicídio, quatro vezes maior probabilidade de morrer de danos causados por acidentes e catorze vezes maior probabilidade de morrer de homicídio. (2) Os investigadores concluíram que as taxas de mortalidade mais elevadas relacionadas com acidentes e homicídios podem estar ligadas às taxas de suicídio e de comportamentos de risco mais elevadas entre estas mulheres.

As principais causas de morte materna relacionadas com o aborto ocorridas num período de até uma semana após o procedimento são: hemorragias, infecção, embolia, anestesia, e gravidez ectópica [ gravidez na qual o feto se desenvolve fora da cavidade uterina; frequentemente nas trompas e raramente nos óvulos ou zona abdominal ] não diagnosticada.

Um estudo realizado em 1985 nos Estados Unidos aponta o aborto legal como a quinta causa principal de morte materna, mesmo sendo conhecido que uma grande parte das mortes como resultado do aborto não é oficialmente participada como tal. (3)

Um outro estudo publicado em 2002 refere que as mulheres que já se submeteram a um aborto têm um risco significativamente mais elevado de morte a curto e longo prazo do que as mulheres que dão à luz (4). Este estudo baseou-se em 173.000 registos médicos de mulheres com baixo rendimento na Califórnia, para os quais os investigadores estudaram as participações de mortes. Entre as várias descobertas que fizeram, constataram que as mulheres que tinham realizado abortos apresentavam o dobro da probabilidade de morrer nos dois anos subsequentes. Também verificaram uma elevada taxa de mortalidade por um período de oito anos nas mulheres submetidas a abortos. Neste período estudado, as mulheres que abortaram apresentavam mais 154% de risco de morte por suicídio, mais 82% de risco de morte por acidente e mais 44% de risco de morte por causas naturais.

Em países onde a prática do aborto é legal, as taxas de mortalidade resultantes desta prática são geralmente muito baixas. A justificar os números baixos podem, no entanto, estar outras causas que não a segurança do procedimento. Um dos motivos é a simples omissão da palavra aborto na causa de morte. Mas existem outros factores que mascaram a verdadeira dimensão dos números. Ficam apenas alguns exemplos de como o aborto pode resultar na morte da mulher sem necessariamente ser esta a causa “oficial” de morte:

Um útero perfurado durante o processo de aborto induzido dá origem a um abcesso [ acumulação de pus resultante de uma infecção por microrganismos, geralmente bactérias ] pélvico, sepsia (infecção generalizada do sangue) e morte.

Depressão profunda e sentimento de culpa após um aborto conduzem ao suicídio. Causa oficial: suicídio. Causa real: aborto.

Um estudo publicado em 1990 mostra as principais causas de morte resultante do procedimento do aborto legal entre 1979 e 1985 nos EUA (5) :

22,2% por hemorragia;

13,9% por infecção;

15,3% por embolia;

29,2% da anestesia;

19,4% de outras causas.

Estudos mais recentes não parecem indicar um cenário diferente. Num destes estudos a comparar as taxas de mortalidade das mulheres resultantes de abortos e nascimentos, os autores comentam: “Ainda que alguns especialistas médicos continuem certamente a defender a opinião que o aborto é uma alternativa segura a dar à luz, isto não pode ser mais caracterizado como um ‘facto estabelecido.’ É na melhor das hipóteses uma opinião não substanciada, mais provavelmente uma esperança, e na pior das hipóteses, um mantra ideológico.” (Reardon, D. C., T. W. Strahan, J. M. Thorp and M. W. Shuping (2004). Deaths associated with abortion compared to childbirth: a review of new and old data and the medical and legal implications. The Journal of Contemporary Health Law & Policy 20(2): 279-327.)

1. Gissler, M., Kauppila, R., Merilainen, J., Toukomaa, H. and Hemminki, E. (1997). Pregnancy-associated deaths in Finland 1987-1994 – Definition problems and benefits of record linkage. Acta Obstetricia Et Gynecologica Scandinavica 76(7):651-657.

2. Gissler, M., Hemminki, E. and Lonnqvist, J. (1996). Suicides after pregnancy in Finland, 1987-94: Register linkage study. British Medical Journal 313(7070):1431-1434.

3. Kaunitz, A.M., Hughes, J.M., Grimes, D.A., Smith, J.C., Rochat, R.W. and Kafrissen, M.E. (1985). Causes of Maternal Mortality in the United-States. Obstetrics and Gynecology 65(5):605-612.

4. Reardon, D.C., Ney, P.G., Scheuren, F., Cougle, J., Coleman, P.K. and Strahan, T.W. (2002). Deaths associated with pregnancy outcome: A record linkage study of low income women. Southern Medical Journal 95(8):834-841.

5. Atrash, H.K., Lawson, H.W. and Smith, J.C. (1990). Legal abortion in the US: trends and mortality. Contemporary OB/GYN 35(2):58-69.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Consumo de 

Tabaco, Álcool e Drogas


O stress pós-aborto está ligado ao aumento do consumo de tabaco. As mulheres que abortam duplicam a probabilidade de se tornarem fumadoras excessivas e de sofrerem dos riscos de saúde que daí advêm. (1)

O aborto está relacionado com uma duplicação do aumento do risco de abuso de álcool entre as mulheres (2). Um estudo realizado entre mulheres sem antecedentes de consumo de drogas ou álcool revelou um aumento de cinco vezes no consumo destas substâncias entre mulheres que realizaram um aborto na sua primeira gravidez. (3)

Outro estudo mostrou que entre mulheres que dão à luz a primeira vez, aquelas que já tinham realizado um aborto no passado, tinham cinco vezes mais hipóteses de utilizarem drogas, duas vezes mais probabilidade de consumir álcool e dez vezes mais probabilidade de fumar marijuana durante a gravidez, em relação a mulheres que nunca tenham realizado um aborto. (4)

A relação entre o aborto e o abuso de substâncias (drogas e álcool) tem sido estabelecida em estudo recentes. Um destes estudos, realizado entre 749 mulheres que tiveram a sua primeira gravidez não intencional e 1144 mulheres que nunca estiveram grávidas, revela que as mulheres que optaram pelo aborto têm maior probabilidade de reportar, em média quatro anos após o aborto, uma utilização mais frequente de álcool, marijuana e cocaína. (5)

Este estudo revela ainda que as mulheres que deram à luz a sua gravidez não intencional, não apresentavam diferenças significativas em relação às mulheres que nunca tinham dado à luz, excepto num menor consumo de álcool. Segundo um dos autores, este facto pode ser explicado por a maternidade, mesmo nas gravidezes não desejadas, produzir um efeito protetor nas mães, que imerge possivelmente no aumento do sentido de responsabilidade em relação aos seus filhos.

A investigação revela ainda que as elevadas taxas de consumo de drogas e álcool entre mulheres que realizaram um aborto poderá estar ligado a elevados níveis de ansiedade, depressão e mágoa.

Pelo menos 21 estudos médicos anteriores a este revelaram que mulheres com uma história de aborto têm mais probabilidade de um maior uso subsequente de drogas e álcool do que outras mulheres.

1. Harlap, S. and Davies, A.M. (1975). Characteristics of Pregnant-Women Who Report Previous Induced Abortions. Bulletin of the World Health Organization 52(2):149-154.; Levin, A.A., Schoenbaum, S.C., Monson, R.R., Stubblefield, P.G. and Ryan, K.J. (1980). Association of Induced-Abortion with Subsequent Pregnancy Loss. Jama-Journal of the American Medical Association 243(24):2495-2499.

2. Klassen, A.D. and Wilsnack, S.C. (1986). Sexual Experience and Drinking among Women in a United-States National Survey. Archives of Sexual Behavior 15(5):363-392.; Kuzma, J.W. and Kissinger, D.G. (1981). Patterns of Alcohol and Cigarette Use in Pregnancy. Neurobehavioral Toxicology and Teratology 3(2):211-221.

3. Reardon, D.C. and Ney, P.G. (2000). Abortion and subsequent substance abuse. American Journal of Drug and Alcohol Abuse 26(1):61-75.

4. Coleman, P.K., Reardon, D.C., Rue, V.M. and Cougle, A. (2002). A history of induced abortion in relation to substance use during subsequent pregnancies carried to term. American Journal of Obstetrics and Gynecology 187(6):1673-1678.

5. Reardon, D.C., P.K. Coleman and J.R. Cougle (2004). Substance use associated with unintended pregnancy outcomes in the National Longitudinal Survey of Youth. American Journal of Drug and Alcohol Abuse 30(2):369-383.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Depressão


Um estudo recente sugere que as mulheres que abortam na sua primeira gravidez não desejada têm maior propensão para o suicídio, aumento do abuso de drogas e para a depressão clínica, do que mulheres que levam a sua gravidez não intencional até ao fim. Este estudo publicado num prestigiado jornal científico de medicina, foi levado a cabo por uma organização Norte Americana de investigação e educação que estuda as complicações pós-aborto e fornece programas de aconselhamento para as mulheres. Os dados deste estudo foram retirados de um estudo nacional sobre os jovens americanos que teve início em 1979. Um subconjunto de 4.463 mulheres foi sondado em 1992 sobre assuntos como a depressão, intenção de gravidez e resultado da mesma. (1)

Uma das conclusões do estudo foi que oito anos após o aborto induzido, as mulheres casadas tinham 138% mais probabilidades de estar em elevado risco de depressão clínica do que as mulheres que levaram a sua gravidez não planeada/intencional até ao fim.

Um outro estudo recentemente publicado revela o risco significativo de episódios psiquiátricos associados ao aborto induzido. (2) A equipa de investigadores que efetuou este estudo comparou os tratamentos psiquiátricos entre mulheres que se tinham submetido um aborto induzido e mulheres que tinham levado a gravidez até ao fim. Esta informação foi obtida através do exame de registos médicos de cerca de 173.000 mulheres da Califórnia de estratos econômicos baixos. De modo a excluir diferenças induzidas pela saúde psicológica das mulheres antes destes episódios, não foram consideradas todas as mulheres que se tinham submetido a qualquer tratamento psiquiátrico no ano anterior ao resultado da gravidez. O estudo revelou que cerca de 63% das mulheres tinham maior probabilidade de receber tratamento psiquiátrico num período de 90 dias após um aborto do que numa gravidez levada até ao fim. Para além disso, taxas significativamente mais elevadas de tratamentos de saúde mental subsequentes persistem ao longo dos quatro anos de dados examinados para as mulheres que se submeteram a um aborto. O aborto estava mais fortemente associado com tratamentos subsequentes para depressão neurótica, desordem bipolar e desordens esquizofrênicas.

A mesma equipa de cientistas publicou outro estudo baseado em 56.741 pacientes que mostrou que as mulheres que se submeteram a um aborto têm 2,6 vezes mais probabilidades de serem hospitalizadas para tratamento psiquiátrico no período de 90 dias após o aborto ou nascimento (em relação a mulheres que dão à luz). Neste estudo o diagnóstico mais comum foi a psicose depressiva. (3)

Um estudo comparativo realizado entre aproximadamente 1.900 mulheres que na sua primeira gravidez se submeteram a um aborto induzido ou levaram a gravidez até ao fim, revelou que aquelas que decidiram terminar a gravidez com um aborto, tinham 65% mais de probabilidade de estar no risco elevado de depressão clínica. (4)

Na WWW: (CNSNews).

1. Reardon, D.C. and Cougle, J.R. (2002). Depression and unintended pregnancy in the National Longitudinal Survey of Youth: a cohort study. British Medical Journal 324(7330):151-152.

2. Coleman, P.K., Reardon, D.C., Rue, V.M. and Cougle, J. (2002) State-funded abortions versus deliveries: A comparison of outpatient mental health claims over 4 years. American Journal of Orthopsychiatry 72(1):141-152.)

3. Reardon, D.C., Cougle, J.R., Rue, V.M., Shuping, M.W., Coleman, P.K. and Ney, P.G. (2003). Psychiatric admissions of low-income women following abortion and childbirth. Canadian Medical Association Journal 168(10):1253-1256.

4. Cougle, J.R., Reardon, D.C. and Coleman, P.K. (2003). Depression associated with abortion and childbirth: A long-term analysis of the NLSY cohort. Medical Science Monitor 9(4):CR105-112.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Ansiedade


Quando comparadas com mulheres que levam a sua gravidez não intencional até ao fim, as que abortam uma gravidez não intencional têm maior probabilidade de experimentar problemas subsequentes de ansiedade. Esta constatação é o resultado de um estudo recente (1) publicado num jornal científico dedicado a desordens ligadas com a ansiedade, realizado entre 10,847 mulheres com idades entre os 15 e os 34 anos que experimentaram uma primeira gravidez não intencional e sem qualquer historial de ansiedade. Os investigadores que realizaram este estudo descobriram que as mulheres que decidiram abortar tinham 30% maior probabilidade de mencionar sintomas subsequentes associados a um diagnostico de desordem generalizada de ansiedade.

Esta ligação não deve ser ignorada no tratamento de mulheres com problemas de ansiedade. O principal autor deste estudo refere que “o nosso estudo sugere que os profissionais de saúde que tratam de mulheres com problemas de ansiedade poderão achar útil inquirir acerca da história reprodutiva das suas clientes (…) As mulheres que lutam com questões por resolver relacionadas com um aborto no passado poderão beneficiar significativamente de aconselhamento que foque este problema.”

1. Cougle, J. R., D. C. Reardon and P. K. Coleman (2005). Generalized Anxiety Following Unintended Pregnancies Resolved Through Childbirth and Abortion: A Cohort Study of the 1995 National Survey of Family Growth. Journal of Anxiety Disorders 19:137-142.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Stress Pós-Aborto


Os danos psicológicos mais sérios que as mulheres que se submetem a um aborto induzido experimentam podem ser englobados numa condição designada de Síndrome Pós-Aborto (SPA). Esta condição faz parte da classe mais abrangente de desordens designadas de Desordens de Stress Pós-Traumático. O SPA pode ser descrito nos seguintes componentes básicos (1) :

Exposição ou participação numa experiência de aborto, que é compreendida como a destruição traumática e intencional da sua própria criança não nascida.

Reviver de uma forma negativa e não controlada o momento do aborto (“flashback”). Tentativas mal sucedidas de evitar ou negar recordações dolorosas do aborto, resultando na perda de reação.

Experiências de sintomas associados que não estavam presentes antes do aborto, incluindo culpa. Através de um processo de negação, as vítimas do SPA inibem o processo natural de mágoa e desgosto pela morte de um filho e frequentemente negam a sua responsabilidade no aborto. A negação ou supressão bloqueia, por sua vez, o processo e cura e a possibilidade de perdão a si mesma e outros envolvidos na sua decisão e no seu aborto.

O trauma manifesta-se geralmente numa disfunção na área psicológica, física ou espiritual.

O stress psicológico como consequência de um aborto parece ser maior do que antes se pensava. Um estudo recente que incluiu 331 mulheres russas e 217 mulheres americanas que se submeteram a um aborto parece demonstrar essa realidade. (2) Entre outras coisas, este estudo revelou que:

65% das mulheres americanas sondadas experimentou múltiplos sintomas de desordem de stress pós-traumático, os quais atribuíam ao seu aborto.

64% das mulheres americanas sentiram-se pressionadas por outros a escolher o aborto, em comparação com 37% das mulheres russas.

De um modo geral, as mulheres referiram mais reações negativas do que positivas.

A reação positiva mais mencionada foi o alívio, mas apenas 7% das mulheres russas e 14% das americanas a mencionaram.

As mulheres americanas eram mais propensas a atribuir aos seus abortos pensamentos subsequentes de suicídio (36%), um aumento de consumo de drogas e álcool (27%) problemas sexuais (24%), problemas relacionais (27%), sentimento de culpa (78%) e incapacidade de auto-perdão (24%).

Aproximadamente 2% das mulheres americanas atribuíram ao seu aborto uma hospitalização psiquiátrica subsequente.

1. Speckhard, A.C. and Rue, V.M. (1992). Postabortion Syndrome – an Emerging Public-Health Concern. Journal of Social Issues 48(3):95-119.

2. Rue, V. M., P. K. Coleman, J. J. Rue and D. C. Reardon (2004). Induced abortion and traumatic stress: A preliminary comparison of American and Russian women. Medical Science Monitor 10(10): SR5-16.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Trauma


A experiência do aborto pode ser traumática para as mulheres por variadas razões. Muitas são forçadas a fazê-lo pelos maridos, namorados, pais ou outros (casos recentes reportados nas notícias mostram que muitas prostitutas são obrigadas pela “entidade empregadora” a submeter-se a abortos sempre que engravidam). Se a vida destas mulheres é caracterizada pelo abuso resultante do domínio forçado por parte de outra pessoa (o marido será um exemplo frequente em Portugal), a sujeição a um aborto não desejado pode ser encarada como a humilhação ou violação final.

Outras mulheres, independentemente das razões que as levam a sujeitar-se a um aborto, podem ainda encarar esta prática como a morte violenta do seu próprio filho. Algumas mulheres chegam mesmo a referir que a dor provocada pelo procedimento do aborto, aliada ao facto de ser infligida por um estranho de mascara, poder ser comparada a uma violação ou invasão do seu corpo. (1)

Alguns sintomas referidos por mulheres sujeitas a um ou mais abortos são: pensamentos recorrentes sobre o aborto ou a criança abortada, sensações momentâneas em que a mulher relembra ou sente algum aspecto relacionado com a sua experiência do aborto, pesadelos sobre o aborto ou a uma criança abortada, reações de angústia intensa ou depressão no aniversário da data do aborto.

Para além das muitas formas da reação de trauma consequentes de um aborto induzido, estas variam também no tempo. Muitas mulheres experimentam um período inicial de remorsos e mais tarde encontram algum alívio emocional, enquanto que outras mulheres lidam bem com a situação após o aborto e só mais tarde experimentam problemas emocionais. Num estudo realizado entre 260 mulheres que experimentaram reações negativas pós-aborto, entre 63 a 76% referiram a existência de um período em que negaram quaisquer sentimentos negativos relacionados com o aborto. O período médio de negação apresentado como conclusão deste estudo foi de 63 meses. (2)

Muitas mulheres que se submetem a um aborto chegam a sofrer daquilo que se designa desordem de stress pós-traumático. Um estudo realizado mostrou que 1,4% das mulheres que se sujeitam a um aborto nos EUA sofrem desta desordem como resultado do seu aborto e que, de um modo geral, os sentimentos negativos aumentavam e a satisfação com a escolha diminuía com o passar do tempo. (3) No entanto, este estudo também demonstrou que grande parte das mulheres não experimenta problemas psicológicos ou arrependimento em relação ao seu aborto num período de 2 anos pós-aborto. Apesar da percentagem de mulheres afetadas por esta desordem ser baixa, só nos EUA este número abrange cerca de 18.200 novos casos anualmente, o que implica mais de meio milhão desde que o aborto foi legalizado em 1973.

Um outro estudo realizado na Suécia a partir de entrevistas feitas a mulheres no período de um ano após se terem submetido a um aborto, revelou que cerca de 60% das mulheres (de uma amostra de 854) experimentaram stress emocional após o aborto. (4) Em 16% das mulheres este stress foi classificado como “severo”, tornando necessários cuidados psiquiátricos. Cerca de 70% das mulheres também referiram não voltar a considerar o aborto induzido como opção se fossem novamente confrontadas com uma gravidez não desejada.

1. Francke, L.B. (1978). The Ambivalence of Abortion. Dell Publishing, New York.

2. Reardon, D. (1994). Psychological Reactions Reported After Abortion. The Post-Abortion Review 2(3):4-8.

3. Major, B., Cozzarelli, C., Cooper, M.L., Zubek, J., Richards, C., Wilhite, M. and Gramzow, R.H. (2000). Psychological responses of women after first-trimester abortion. Archives of General Psychiatry 57(8):777-784.

4. Soderberg, H., Janzon, L. and Sjoberg, N.O. (1998). Emotional distress following induced abortion – A study of its incidence and determinants among abortees in Malmo, Sweden. European Journal of Obstetrics Gynecology and Reproductive Biology 79(2):173-178.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Repetição de Abortos


As mulheres que se sujeitam a um aborto ficam expostas a um risco acrescido de recorrer a mais abortos no futuro. Mulheres com uma experiência anterior de aborto têm 4 vezes mais probabilidades de abortar novamente do que aquelas que nunca recorreram ao aborto (1). Uma ocorrência estranha em alguns abortos é que as mulheres apresentam como motivação de realizarem um novo aborto a auto-punição. (2)

Um estudo realizado na França entre 12.432 mulheres que tiveram um único parto numa maternidade publica ou privada durante uma semana em 1995 revelou que as que já tinham realizado um ou mais abortos induzidos tinham maior probabilidade de não serem casadas, menor probabilidade de estarem empregados durante a gravidez, tinham um nível de habilitações mais baixo, maior incidência de cuidados pré-natais inadequados e maior probabilidade de fumar durante a gravidez. (3) Para além disso, apresentaram uma maior incidência de partos prematuros quando comparadas com mulheres que apenas tinham sido sujeitas a um único aborto ou nunca tinham realizado nenhum.

1. Joyce, T. (1988). The Social and Economic Correlates of Pregnancy Resolution among Adolescents in New-York-City, by Race and Ethnicity – a Multivariate-Analysis. American Journal of Public Health 78(6):626-631.; Henshaw, S.K. and Silverman, J. (1988). The Characteristics and Prior Contraceptive Use of United-States Abortion Patients. Family Planning Perspectives 20(4):158-&.; Belsey, E.M., Greer, H.S., Lal, S., Lewis, S.C. and Beard, R.W. (1977). Predictive Factors in Emotional Response to Abortion – Kings Termination Study .4. Social Science & Medicine 11(2):71-82.; Freeman, E.W., Rickels, K., Huggins, G.R., Garcia, C.R. and Polin, J. (1980). Emotional Distress Patterns among Women Having 1st or Repeat Abortions. Obstetrics and Gynecology 55(5):630-642.

2. Leach, J. (1977). Repeat Abortion Patient. Family Planning Perspectives 9(1):37-39. Fischer, S. (1986). Reflection on Repeated Abortions: The meanings and motivations. Journal of Social Work Practice 2(2):70-87. Howe, B., Kaplan, H.R. and English, C. (1979). Repeat Abortions – Blaming the Victims. American Journal of Public Health 69(12):1242-1246.

3. Henriet, L. and Kaminski, M. (2001). Impact of induced abortions on subsequent pregnancy outcome: the 1995 French national perinatal survey. British Journal of Obstetrics and Gynaecology 108(10):1036-1042.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Disfunção Sexual


Um estudo mostra que entre 30% a 50% das mulheres que abortam referem experiências de disfunção sexual, tanto de curta ou longa duração, com início imediato após o aborto (1). Estes problemas podem incluir: perda de prazer durante o ato sexual, aumento de dor, aversão ao sexo ou ao homem de uma forma geral ou desenvolvimento de um estilo de vida promíscuo.

1. Belsey, E.M., Greer, H.S., Lal, S., Lewis, S.C. and Beard, R.W. (1977). Predictive Factors in Emotional Response to Abortion – Kings Termination Study .4. Social Science & Medicine 11(2):71-82.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto, Divórcios e 

Problemas Crônicos de Relacionamento


Mulheres que se submeteram a um aborto demonstram maior propensão para relacionamentos mais curtos e para o divórcio (1). Este facto pode dever-se a baixa auto-estima, menor confiança nos homens, disfunções sexuais, abuso de drogas ou álcool, incidência elevada de depressões, ansiedade, e temperamento instável. Mulheres que se submeteram a mais de um aborto (cerca de 45% nos EUA- Facts in Brief: Induced Abortion. The Alan Guttmacher Institute, 1996.) têm maior probabilidade de se tornarem mães solteiras e de necessitar de assistência social.

Um estudo francês realizado em 1996 entre mulheres que se submeteram a mais de um aborto revelou que este grupo tinha sido caracterizado por parceiros instáveis e por um sentimento de ambivalência entre o desejo de engravidar e o não querer ter filhos (2). Os autores deste estudo concluíram que existe uma precariedade psico-social real entre a população estudada e que esta tinha bom conhecimento dos métodos contraceptivos.

O aborto induzido parece deteriorar de um modo geral o relacionamento homem/mulher. Relacionamentos conflituosos, causais ou sem compromisso são particularmente susceptíveis de quebrar após um aborto. Em casos que os casais não se separam são geralmente referidos problemas de comunicação, disfunções sexuais e isolamento. (3)

1. Shepard, M.J. and Bracken, M.B. (1979). Contraceptive Practice and Repeat Induced-Abortion – Epidemiological Investigation. Journal of Biosocial Science 11(3):289-302.; Henshaw, S.K. and Silverman, J. (1988). The Characteristics and Prior Contraceptive Use of United-States Abortion Patients. Family Planning Perspectives 20(4):158-&.; Belsey, E.M., Greer, H.S., Lal, S., Lewis, S.C. and Beard, R.W. (1977). Predictive Factors in Emotional Response to Abortion – Kings Termination Study .4. Social Science & Medicine 11(2):71-82.; Freeman, E.W., Rickels, K., Huggins, G.R., Garcia, C.R. and Polin, J. (1980). Emotional Distress Patterns among Women Having 1st or Repeat Abortions. Obstetrics and Gynecology 55(5):630-642.; Berger, C., Gold, D., Andres, D., Gillett, P. and Kinch, R. (1984). Repeat Abortion – Is It a Problem. Family Planning Perspectives 16(2):70-75.

2. Douvier, S., Lordier, C., Rousseau, T. and Reynaud, I. (2001). Interruption volontaire de grossesse : étude comparative entre 1982 et 1996 sur le principal centre de côte d’or. Analyse des femmes ayant des IVG itératives. Gynecol. Obstet. Fertil. 29(3):200-210.

3. Strahan, T.W. (1993). Major Articles and Books Concerning the Detrimental Effects of Abortion. The Rutherford Institute, Charlottesville, VA.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Estatísticas do Aborto no Mundo


Numero de abortos por ano: entre 46 a 55 milhões.

Numero de abortos por dia: aproximadamente 126.000.

Onde ocorrem: 78% de todos os abortos são realizados em países em desenvolvimento e os restantes 22% em países desenvolvidos.

Legalidade dos abortos: Aproximadamente 97 países, com cerca de 66% da população mundial, têm leis que em essência permitem o aborto induzido. Noventa e três países, com cerca de 34% da população, proíbem o aborto ou permitem o aborto apenas em situações especiais como deformações do feto, violações ou risco de vida para a mãe. Todos os anos cerca de 26 milhões de mulheres realizam abortos legais, enquanto que 20 milhões de abortos são realizados em países onde esta prática é restringida ou proibida por lei.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Estatísticas do Aborto nos Estados Unidos


Numero de abortos por ano: aproximadamente 1,313,300 no ano 2000. (1)

Numero de abortos por dia: aproximadamente 3.700.

Quem realiza os abortos:
  • 1. Idade

    52% das mulheres tem idade inferior a 25 anos;
    mulheres com idades entre 20 e 24 contabilizam 32% da totalidade de abortos;
    20% são adolescentes sendo 1,2% raparigas com menos de 15 anos.
  • 2. Estado civil

    64,4% de todos os abortos são atribuídos a mulheres que nunca se casaram;
    as mulheres casadas contabilizam 18,4% de todos os abortos e as divorciadas 9,4%.
  • 3. Rendimento familiar

    Menor de 15.000 € – 28,7%;

    15.000 € – 29.999 – 19,5%;

    30.000 € – 59.999 – 38,0%;

    Acima dos 60,000 – 13,8%.
  • 4. Motivos

    Violação ou incesto – 1%;

    Potenciais problemas de saúde (mãe ou feto) – 6%;

    Razões sociais (i.e. criança não desejada ou inconveniente) – 93%.
  • 5. Período de gestação em que o aborto é realizado

    Antes da 9ª semana – 52%;

    9ª e 10º semanas – 25%;

    11ª e 12ª semanas – 12%;

    13ª à 15ª semana – 6%;

    16ª à 20ª semana – 4%;

    Após a 20ª semana – 1% (aproximadamente 16.450 por ano).
  • 6. Probabilidade de aborto

    Estima-se que 43% das mulheres irão realizar pelo menos um aborto antes de atingirem os 45 anos de idade;

    47% de todos os abortos são realizados em mulheres que já realizaram um aborto previamente.
  1. 1. Ludmer, P. I., A. Nucci-Sack and A. Diaz (2003). Adolescent Abortion: Trends and Techniques. Current Women’s Health Reports 3: 438-444.
    (Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)

Estatísticas do Aborto na Rússia


O Legado

A prática comum do aborto induzido durante décadas deixou, neste país, um legado de problemas clínicos significativos. As complicações resultantes do aborto são a causa de morte maternal em mais de uma em cada quatro mulheres. De uma forma geral, 2 em cada 3 mulheres russas que se submetem a um aborto induzido sofrem complicações de saúde resultantes do procedimento em si, o que agrava ainda mais o estado do sistema de saúde deste país.

A prática do aborto induzido tem sido também responsável pelas elevadas taxas de infertilidade secundária, estimando-se que uma em cada dez mulheres fica estéril depois de se submeter a um aborto. Estes números apenas têm diminuído porque a prática do aborto também tem diminuído como consequência de uma maior informação e disponibilidade de contraceptivos nos anos mais recentes.

O Enquadramento

A Rússia sempre apresentou uma elevada taxa de abortos induzidos, cerca de 3 vezes superior à dos Estados Unidos. A sua taxa é uma das mais elevadas em todo o mundo. Esta tendência elevada de abortos é comum em muitos países comunistas ou pós-comunistas. Estima-se que o Vietname, a Romênia e Cuba tenham taxas de aborto ainda mais elevadas que a Rússia, e a China provavelmente o maior número total de abortos. A prática do aborto foi re-legalizada na Rússia na década de 50 e o desejo de ter famílias pequenas, devido em parte à crescente urbanização, contribuiu para que as taxas de aborto se tornassem muito elevadas. Em 1965 as taxas de aborto tinham já subido para mais de 16 abortos por cada 100 mulheres com idade de ter filhos. Apesar dos esforços de implementação de práticas de contracepção (algumas delas desastrosas), a preferência do aborto face à contracepção chegou até à década de 90.

A agravar esta situação, alguns incentivos ajudaram a manter as taxas de aborto elevadas. Até ao final da década de 80, um aborto legal implicava uma hospitalização de três dias. Para o hospital que recebia do estado em função do número de camas ocupadas, esta prática tornava-se rentável. Ainda hoje, os lucros desta prática são um incentivo para alguns médicos realizarem o aborto em lugar de incentivar a contracepção. (1)

O Futuro?

Num livro publicado em 2001 com os resultados de um estudo sobre a tendência da demografia na Rússia, os autores referem que os registos russos indicam que um acesso melhor aos contraceptivos podem ajudar a reduzir as altas taxas de abortos. Esta estratégia irá também levar, segundo o estudo, a uma vida reprodutiva mais estável para as mulheres na Rússia e evitar problemas de morbilidade maternal, mortalidade, e esterilidade secundária resultantes do aborto.

Será a Rússia o único pais onde o aborto tem efeitos nefastos? Serão as consequências piores para as mulheres que se submetem ao aborto induzido na Rússia do que o são nos Estados Unidos ou Europa? Ou serão os registos russos mais completos e corretos? (2)

Se estiver interessado numa história da Rússia (publicada na BBC News) e que de certa forma espelha a diferença de mentalidades entre o antigo e o novo, clique aqui.

1. Wulf, D. (1999). Sharing Responsibility: Women, Society, and Abortion Worldwide. The Alan Guttmacher Institute, New York.

2. DaVanzo, J. and Grammich, C. (2001). Dire Demographics: Population Trends in the Russian Federation. RAND, 101 pp.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Estatísticas do Aborto no Reino Unido


A Dura Realidade
  • Mais do que uma em cada cinco gravidezes termina num aborto.
  • 36% das gravidezes em mulheres abaixo dos 20 foram interrompidas, número que continua a crescer apesar da disponibilidade de contraceptivos e da “pílula do dia seguinte.”
  • Durante o ano de 2000, 23% das gravidezes foram interrompidas entre mulheres de todas as idades.
  • São realizados diariamente cerca de 600 abortos.
  • Em 2003 atingiu-se um valor recorde com 37.043 abortos em adolescentes entre os 15 e os 19 anos, número superior aos 36.018 abortos realizados por mulheres entre os 25 e os 29 anos.
  • Faixas etárias: 1.171 abortos foram realizados por jovens com idades abaixo dos 15 anos, 2.796 por jovens de 15 anos, 5.768 por jovens de 16 anos, 8.387 por jovens de 17 anos, 9,765 por jovens de 18 anos e 10.327 por jovens de 19 anos.
  • Um total de 1.365 abortos foram realizados às 22 semanas de gestação ou após.
  • Um terço das mulheres que recorreram ao aborto tinham já realizado um previamente.
  • Oito em cada dez abortos são suportados pelos contribuintes.
  • De acordo com um movimento pró-vida, milhares de mulheres arrependeram-se da decisão de realizar um aborto.
A Confusa Realidade

Apesar de alguns defensores do direito à escolha (do aborto) referirem não existir provas reais de que as mulheres estão a utilizar o aborto como método de controlo de natalidade, referem também que muitas das que visitam os seus centros já se submeteram ao procedimento várias vezes. Nestes caos, a explicação baseia-se no facto do ato sexual que levou à gravidez ser fruto de uma situação não premeditada ou planeada, em que nenhum contraceptivo estava disponível. A contradição é tão óbvia que até parece confusa. A verdade parece ser que, nesta realidade específica, o aborto só não é uma alternativa a métodos contraceptivos quando não é necessário. Quando todos os outros falham, ou simplesmente não são utilizados (como em muitos casos), então o aborto entra como a escolha final, difícil é certo para as mulheres, mas ainda assim como substituto a métodos contraceptivos.

No meio deste aparente caos, algumas notícias recentes têm chocado a opinião pública ao referir que pelo menos uma dúzia de bebes foram abortados por terem palatos e/ou lábios leporinos. Este aborto “cosmético”, como é designado, representa uma provável violação à Lei Britânica [ler mais…].

Há também quem refira que o aborto é uma parte essencial do controlo de fertilidade, sem no entanto considerar necessário que as mulheres devam ser informadas sobre os perigos de adiarem a maternidade. Para alguns que acreditam nesta ocultação deliberada da informação, ou que apenas acreditam no direito da mulher à escolha mas não à informação, se a altura não é a indicada para ter um filho, não se pode ir com a gravidez para a frente apenas porque essa poderá ser a última oportunidade que a mulher tem de ser mãe.

Aparentemente, o direito à escolha de abortar em determinado momento, é um valor que deve estar acima de qualquer outro, nomeadamente o do direito à verdade (neste caso a simples informação), o da saúde da mulher e o direito de poder ser mãe.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Escolha: Panorama Atual


Muito pouca ou mesmo nenhuma informação é dada às mulheres, e aquela que se dá é por vezes errada ou incompleta. As complicações do aborto são ignoradas ou minimizadas (algo que começa logo nas discussões públicas sobre o assunto, especialmente as dominadas por um elenco político).

Em grande parte das clínicas de aborto, a táctica utilizada para “humanizar” esta prática reside na escolha de palavras. Em consultas de obstetrícia, durante o acompanhamento às mulheres grávidas, a palavra “bebé” ou “filho” é usada sem qualquer reserva. Nas clínicas de aborto, por sua vez, a alusão ao bebé ou feto é feita nos termos “ainda não é um bebe”, “ainda não está vivo”, “tecido de gravidez”, “amontoado de células”. E estas descrições são utilizadas por vezes em relação a estados do desenvolvimento fetal no qual o bebé já chupa o dedo, sente dor (um dos aspectos mais ignorados na prática do aborto), apresenta um batimento cardíaco em muitos casos audível com um simples estetoscópio. Para além disto, são utilizados termos como “restabelecer o período menstrual” em alusão ao procedimento do aborto. Até mesmo a palavra “aborto”, que simboliza para muitos a materialização do direito à liberdade, é evitada ao máximo.

Uma vez que este tipo de engano é levado a cabo dentro das próprias clínicas de aborto livre, vários grupos pró-vida têm sido sugerido que o acesso à informação correta poderá comprometer o “negócio” do aborto.

O resultado trágico deste engano é a tomada de decisão com base em informação errada ou na ausência de qualquer informação. A decisão de abortar, neste enquadramento, é no fundo um engano. As mulheres são enganadas mas de um modo a que fiquem com a sensação de que têm os seus direitos garantidos. O direito à escolha não parece implicar, neste sentido, um direito a saber a verdade.

Muitas mulheres acabam por decidir recorrer ao aborto porque foram mal informadas ou simplesmente não tiveram acesso a qualquer informação. Sob alguns aspectos, a liberalização do aborto pode ser o exemplo acabado da exploração das mulheres.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)


Aborto e Escolha: A Solução


A simples proibição não avança qualquer solução. Muitos estados americanos têm implementado nos últimos anos leis designadas de “direito das mulheres a saber”. Estas leis têm como principal objectivo dar a conhecer às mulheres os vários aspectos relacionados com a prática do aborto (o que é ao certo, consequências, métodos, etc.). Estas leis exigem também que aqueles que executam o aborto recomendem às pacientes um período de espera ou “arrefecimento”. Para além disso, algumas destas leis exigem mesmo que seja fornecida informação (livro, folhetos, etc.) às mulheres antes destas serem submetidas ao aborto.

Há quem aponte a facilitação do acesso à informação como um dos principais motivos de se ter registado no ano de 2000 o valor mais baixo no número de abortos nos EUA, desde 1974 (cerca de 21,3 abortos por cada 1000 mulheres com idade para engravidar em 2000, comparado com a taxa mais elevada de sempre de 29,3 abortos por 1000 mulheres em 1980 e 1981). (The Alan-Guttmacher Institute.)

Os novos avanços médicos (cirurgia intra-uterina e tecnologia de ecografias tridimensionais que revelam os contornos do feto) também têm sido apontados como um dos motivos para a diminuição das taxas de aborto induzido.

(Agradecemos a M. D. Mateus a autorização para publicar na Aldeia este seu trabalho)



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Fonte: Ensaio intitulado "Aborto: O Maior Genocídio da Historia da Humanidade", Parte 2.

Um comentário:

Janete MARCEL disse...

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